"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Operários

Setor constituído pela proletarização de agricultores sem terra, em virtude dos “cercamentos” (enclousures) intensificados na Grã-Bretanha e na Europa ocidental durante o século XVIII, essa massa de despossuídos iria constituir a mão de obra fabril durante a Revolução Industrial. Por extensão, o termo passou a designar, particularmente, os trabalhadores manuais fabris no mundo inteiro.

No século XVIII e parte do XIX, por operário entendia-se o trabalhador desqualificado, sem ofício, ou seja, aquele que não passara pelo sistema de aprendizado dos ofícios manuais regido pelas corporações controladas pelos mestres de ofício. Portanto, o termo comportava uma noção de inferioridade hierárquica dos trabalhadores manuais desqualificados com relação aos qualificados.


Greve, Boris Kustodiev

Nos anos 1830, na Europa ocidental, começou a ser empregada a designação de cunho político “classe operária”, que englobava tanto trabalhadores qualificados quanto não qualificados, como integrantes de um todo, compartilhando interesses e uma identidade comum. Fenômeno similar ocorreu no Brasil na década de 1870. Essa inovação na terminologia refletia a necessidade de formas de atuação e organização capazes de superar as divisões e os interesses setoriais, que se concretizou sob a forma de organizações sindicais gerais, mas também por organizações políticas que pretendiam representar os interesses do operariado, como os partidos que se designavam como operários, trabalhistas, socialistas e, já no século XX, comunistas. Desse modo, na Europa, houve uma clara associação entre o surgimento e crescimento de partidos desse tipo e o crescente peso social do operariado, que constituía a base de apoio dessas organizações.

O peso do operariado também foi decisivo em uma série de movimentos e revoluções, como: as revoluções de 1830 e 1848 na Europa; o movimento cartista (que pretendia a ampliação dos direitos políticos) na Grã-Bretanha nas décadas de 1830-40; a Comuna de Paris de 1871; as revoluções russas de 1905 e 1917; os movimentos grevistas, ocupações de fábricas, levantes e revoluções que atingiram vários países do mundo ao final da Primeira Guerra Mundial. E vários desses movimentos, particularmente a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, foram feitos em seu nome.

Em fins do século XIX, em virtude das transformações operadas no mundo do trabalho, não faltaram discussões acerca da desaparição do operariado. Porém, ao mesmo tempo que setores industriais perderam peso e o número de trabalhadores empregados nessas indústrias diminuiu, esse período assistiu também ao ressurgimento de condições de trabalho semelhantes aquelas encontradas sob a Revolução Industrial

Claudio Batalha. Operários. In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 4: Idade Contemporânea. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 15.

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