“A liberdade de um homem é o jugo de outro”.
(Provérbio africano, Benin)
Mural Huddleston, Josef Langerman
Na África do Sul, cuja
independência dentro da Commonwealth
(ou Comunidade Britânica) ocorreu em 1931, os brancos africanos (descendentes
de holandeses e ingleses) intensificaram a segregação racial (conhecida como Apartheid – privava os não brancos de
todos os direitos políticos e civis e da maior parte dos direitos humanos) a
partir da vitória do Partido Nacionalista, sobretudo nos governos de Daniel
Malan (1948-1954) e Hendrik Verwoerd (1958-1966). “O aguçamento do racismo
parece-nos ter correspondido a um novo perigo de proletarização de amplas
camadas brancas da população”. (PEREIRA, J. M. N. Descolonização. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Afro-Asiáticos,
1973. p. 39) Foi justamente o Apartheid
que levou o governo de Verwoerd a cortar todos os laços com a Inglaterra e a
proclamar a República Sul-Africana (1961).
Em 1985, na África do Sul, havia
5.500.000 brancos (os africânderes),
22.500.000 negros (chamados africanos),
3.250.000 mestiços (denominados coloureds)
e 975 mil asiáticos. Durante as quatro décadas de existência do Apartheid, a luta entre a minoria branca
(17%) e a maioria não branca (83%) foi constante, principalmente pelo
crescimento da consciência negra.¹ Ficou conhecido o Massacre de Sharpeville, ocorrido em 21 de março de 1960, tornado o
Dia Mundial contra a Discriminação Racial.
Sabe por quê? Neste dia, as autoridades brancas massacraram uma centena de
negros e prenderam mais de 200 que protestavam contra o Apartheid. Também em 1960 foi colocado fora da lei o Congresso
Nacional Africano e encarcerado seu principal líder, Nelson Mandela – que
permaneceu preso até 1990 -, decisões que levaram o partido a pregar a luta
armada para conquistar direitos que os negros não possuíam. Graças, inclusive,
às imagens transmitidas pela televisão, a opinião pública mundial tomou
conhecimento da violência das autoridades brancas contra os protestos negros.
Nessa luta destacou-se Desmond Tutu, primeiro bispo negro do país e Prêmio
Nobel da Paz em 1984.
¹ “A minoria branca, que compunha
um quinto da população total em meados do século, dominava a nação, conduzindo
a mais bem-sucedida economia do continente, da Cidade do Cabo até Durban. Os
africanos negros e os chamados mestiços do Cabo formavam 80% da população e
serviam como mineiros, trabalhadores rurais, reparadores de estradas,
varredores de ruas, garçons e empregados domésticos. Eram mal remunerados,
pelos padrões do país, mas bem pagos em comparação com a maioria das nações
africanas.” (BLAINEY, Geoffrey. Uma breve
história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p.
188-189).
Massacre de Sharpeville, Godfrey Rubens
Em 1988, o governo sul-africano
proibiu toda e qualquer atividade de organizações oposicionistas, alegando que
essas entidades “insistem em manter e promover um clima revolucionário”. Aliás,
desde que decretou o estado de emergência, em junho de 1986, o governo
sul-africano prendeu 25 mil pessoas sem julgamento, assassinou milhares de
outras e, em 1987, estabeleceu feroz censura aos meios de comunicação.
E sabe por que toda essa
violência? Para garantir à burguesia empresarial branca a disponibilização de
mão de obra farta e barata, sem dispor de qualquer proteção das leis. Ao
contrário, a legislação existente colocava a maioria não branca inteiramente à
mercê da minoria branca.
Entretanto, a oposição cada vez
mais violenta do Congresso Nacional Africano levou o governo do presidente
Frederick de Klerk a revogar as leis do Apartheid:
oficialmente deixou de haver o Apartheid
(1991).²
Um plebiscito, no ano seguinte,
aprovou, por maioria de votos, as decisões governamentais.
Mesmo assim, continuou instável a
situação do país:
- a crise econômica permaneceu:
- aumentou a violência da
organização branca neonazista Movimento de Resistência Africânder, com suas
milícias fardadas de cáqui, usando a suástica e a saudação nazista;
- articularam-se organizações e
partidos negros defensores de uma democracia baseada no princípio de
um-homem-um-voto e na aprovação de nova Constituição.
Em 1994, Nelson Mandela, velho
militante negro, foi eleito presidente da República, sendo formado um
ministério de conciliação nacional. Desistindo de concorrer à reeleição,
Mandela foi sucedido, em 1999, por Thabo Mbeki, também do CNA.
² “De qualquer forma os negros
puderam votar e, principalmente, locomover-se livremente pelo país, geralmente
em busca de empregos e melhores condições de vida. Por esta razão surgiram
enormes favelas junto às grandes cidades, mostrando uma pobreza que estava
oculta em regiões afastadas onde as “comunidades tribais” eram obrigadas a
permanecer. Mas houve melhorias, apesar do alto índice de desemprego, pois o
acesso à saúde, à educação, à eletricidade e, gradativamente, à moradia está
sendo conquistado. Contudo, inegavelmente, há frustração pela falta de emprego,
desigualdade social (agora há termo de comparação) e o resultado é o aumento da
criminalidade, especialmente juvenil.
O país também recebe muitos
imigrantes das regiões mais pobres da África, o que complica a situação e cria
“bodes expiatórios” para os descontentes e forças políticas que buscam a
instabilidade. Há um processo de Black
empowerment, um programa governamental destinado a aumentar a presença dos
negros nos negócios e na administração. Mas o que isto gerou até agora foi a
formação de uma pequena elite negra, claramente cooptada pelo modo de vida dos
antigos senhores, como o rico cinema sul-africano tem mostrado.
Embora a situação interna
sul-africana seja complicada, especialmente quanto aos problemas sociais que
afetam a maioria negra, começa a esboçar-se uma área de integração na África
Austral em torno da “nova” África do Sul. O processo de paz traz implícita a
integração econômica da região, permitindo virtualmente uma maior estabilidade
social e diplomática, bem como uma inserção internacional menos onerosa desta
área no movimento de globalização econômica em curso.” VISENTINI, Paulo
Fagundes [et al]. História da África e
dos Africanos. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 152-153.
AQUINO, Rubim Santos Leão de [et
al]. História das sociedades: das
sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo
Milênio, 2010. p. 584-585.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 188-189.
VISENTINI, Paulo Fagundes [et al]. História da África e dos Africanos. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 152-153.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 188-189.
VISENTINI, Paulo Fagundes [et al]. História da África e dos Africanos. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 152-153.
Nenhum comentário:
Postar um comentário