Foi o conjunto de problemas políticos internacionais surgidos em consequência do declínio do Império Otomano - "o guardião dos Estreitos". A área dos estreitos de Dardanelos e do Bósforo passou a ser alvo da disputa das potências europeias, tais como a Rússia, a Inglaterra, a França e a Áustria.
As grandes potências europeias ora defenderam a integridade do Império Otomano - chamado pelo czar Nicolau I de "O Homem Doente da Europa" -, ora defenderam a sua desintegração em vários Estados, sempre em função dos interesses políticos e econômicos dessas potências.
A Rússia constituía uma das únicas potências europeias que não possuía bons portos. Os portos da Rússia estavam situados em zonas afastadas das rotas comerciais, regiões de águas geladas, ou então facilmente bloqueáveis. Durante todo o século XIX, a Rússia desenvolveu uma política de buscar uma saída para o Mediterrâneo através dos estreitos do Bósforo e de Dardanelos, daí o seu interesse em intervir no Império Otomano, a pretexto de proteger os cristãos eslavos.
"Como a Europa compreenderia a importância vital que para nós constitui semelhante questão? Qualquer rumo a que possam conduzir as atuais conversações diplomáticas, cedo ou tarde Constantinopla deverá nos pertencer".
(Dostoievski, em 1877)
A Inglaterra tinha grandes interesses econômicos e políticos no Mediterrâneo Oriental e em garantir as rotas terrestres e marítimas que possibilitavam comunicação com a Índia, fundamental para o Império Britânico. Por isso, não admitia uma expansão russa à custa do Império Otomano. Além disso, os ingleses tinham interesses comerciais nessa região. Durante o século XIX, a Inglaterra procurou frustrar os projetos russos e manter a "integridade" do Império Otomano.
A França, após a derrota de Napoleão Bonaparte, ficou isolada na Europa, e procurou sair desse isolamento aliando-se, por vezes, à Inglaterra. Ao mesmo tempo, a França tinha interesses econômicos em relação a várias áreas do Império Otomano, especialmente o Egito.
A Áustria era outro Estado europeu que necessitava de bons portos e por isso estava interessada na livre navegação do Rio Danúbio. Além do mais, procurou evitar que o Princípio das Nacionalidades atingisse igualmente as nações a ela subordinadas naquela área. A Áustria só veio intervir decisivamente na Questão do Oriente a partir da segunda metade do século XIX, quando foi afastada da Itália e da Alemanha por ocasião da unificação política daqueles países.
Em consequência dos interesses das potências europeias, o Império Otomano sofreu constantes desmembramentos devido aos choques internacionais daquelas quatro grandes potências interessadas nos Balcãs. Essa fragmentação representou o recuo dos turcos da Península Balcânica e o surgimento de novos Estados com base nas nacionalidades não turcas ali assinaladas: búlgaros, romenos, gregos, sérvios e outros.
As principais "questões" do Oriente no século XIX foram: a independência da Grécia (1829), apoiada pela Rússia; a Convenção dos Estreitos (1841), vitória da diplomacia inglesa desejosa de assegurar a sobrevivência do Império Otomano, estabelecendo, contra os interesses da Rússia, que os Estreitos (Bósforo e Dardanelos) estariam livres para navegação em tempo de paz e fechados em tempo de guerra; a Guerra da Crimeia (1853-1856), em que a França, com o apoio da Inglaterra e, depois do Piemonte, converteu-se em defensora da integridade do Império Otomano contra a invasão russa; a Rússia foi vencida e pelo Tratado de Paris perdeu tudo o que havia obtido anteriormente; e a Crise Oriental (1875-1878), que resultou na independência da Bulgária, da Romênia, do Montenegro e da Sérvia, além da cessão da Bósnia e da Herzegovina à Áustria, que recebeu a incumbência de administrar aquelas províncias turcas.
Germanos
de Patras abençoando a bandeira em Agia Lavra, Theodoros Vryzakis
Já no século XX outras crises balcânicas ocorreram e se constituíram em antecedentes da Primeira Guerra Mundial.
AQUINO, Rubim Santos Leão de [et al]. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. p. 246 e 248.
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