As conquistas de Portugal pelo
globo, em especial entre os séculos XV e XVI, ficaram conhecidas como Império
Português. Entretanto, somente no fim desse período o termo foi utilizado pelos
próprios conquistadores. Até pelo menos o século XVIII, não havia oficialmente
(ou judicialmente) um império, já que o império cristão nomeado como tal (e
autorizado) seria o Sacro Império Romano Germânico. Isso, contudo, não impediu que
ideais de império fossem formulados, evocando, na maior parte das vezes,
sentidos universalizantes e católicos aos quais estariam submetidos os
interesses econômicos e políticos. Ligada a esses ideais, a palavra “império”,
de origem latina (imperium), indicava
o poder soberano – o império do monarca -, pelo qual o rei tinha a autoridade
de mando sobre vassalos e súditos, a qual, se estendia ao senhorio sobre as
terras das conquistas.
Durante a maior parte do período
indicado, o que se entendia por império, portanto, era a mistura de uma visão
católica de conversão do globo com uma noção de poder centrada na figura do
soberano, que governava sobre vastos e diferentes territórios. Essa concepção
geral teve obviamente inflexões, variando conforme os interesses, disputas e
concorrentes que se apresentavam, sem, contudo, se transformar em uma
instituição jurídico-política denominada
Império Português. Na historiografia, o termo Império Português tenta, assim,
dar conta das conquistas lusas ao longo dos quatro séculos da Época Moderna,
que se estenderam pelo Oriente e pelo Ocidente e implicaram formas diferentes
de contato e administração, adaptadas ou condicionadas aos múltiplos povos,
culturas e localidades com quais os portugueses depararam.
Mapa do século XVI mostrando as
reivindicações portuguesas para a Guiné e São Jorge da Mina. Autor
desconhecido.
No final do século XVI e na
primeira metade do XVII, a inclusão do Império Português no espectro mais amplo
dos domínios da dinastia dos Áustrias espanhóis, com a União das Coroas
portuguesa e castelhana (1580-1640), somada ao surgimento de outros impérios
coloniais, aumentou os flancos de disputa pela manutenção das conquistas. As
batalhas dos reis espanhóis contra os holandeses (que buscavam se libertar do
jugo castelhano) e ingleses (que desde a derrota da Invencível Armada, em 1588,
ganhavam relevo entre as Coroas do Velho Mundo) implicaram a ampliação desses
conflitos europeus nos mares e, em especial no caso dos holandeses, se
traduziram na perda de praças e, ao fim, de grande parte dos domínios
orientais. Com isso, desmantelaram-se redes comerciais e políticas da Ásia.
Ao mesmo tempo, essas guerras
revestiam-se de argumentações teológicas que fundamentavam o domínio sobre os
mares e também espelhavam a importância da conversão dos povos do Novo Mundo
como fundamento do poder e senhorio dos reis católicos sobre as partes do
império. A missão (jesuítica, sobretudo) era um dos pilares e fins da
conquista. Como diria o padre Antônio Vieira (1608-1697), as armas – dos conquistadores
– precediam as almas – convertidas pelos jesuítas. Nesse sentido, as Américas
entravam em cena tanto pela multidão de gentios que os católicos identificavam
como necessário converter, sem, supostamente, os entraves das religiões mais
estabelecidas do Oriente, como também pelo número de braços (dos africanos) que
poderiam sustentar o combate contra os hereges protestantes e suprir as perdas
geradas pela cisão da cristandade na Europa.
Foi a partir desse momento que o
comércio no Atlântico, existente desde o século XV, e o papel do Brasil –
galgado a Estado em 1549, sobretudo com a produção de açúcar somada ao tráfico
de escravos -, ganhou dimensões centrais na sustentação do império. A partir do
século XVII, principalmente após a Restauração (1640), o Estado do Brasil (com
exceção do estado do Grão-Pará e Maranhão) e as possessões na África
definiram-se como eixo para a sustentação do reino e da nova dinastia, a de
Bragança; e as expectativas imperiais foram se transferindo de leste para
oeste.
O advento do ouro nas Minas
Gerais intensificou a atenção para as Américas e o Atlântico Sul, ao longo do
século XVIII. A importância crescente do Brasil como eixo principal do império
se traduziu nas proposições de um império Luso-Brasileiro, e, sobretudo, entrando
o século XIX, com a vinda da família real para o Brasil em 1808 e a elevação a
Reino Unido em 1815 – fatos que, paradoxalmente, segundo alguns autores,
denunciaram a crise da estrutura imperial. A perda do Brasil, em 1822, obrigou
à redefinição do império e sua refundação, com a África como centro, além dos
poucos enclaves restantes na Ásia, porém em chaves bastante diferentes daquelas
que ordenaram o império colonial moderno.
Luís Filipe Silvério Lima.
Império Português. In: BETING, Graziella. Coleção
história de A a Z: [volume] 3: Idade Moderna. Rio de Janeiro: Duetto, 2009.
p. 49-50.
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