Tokugawa Ieyasu
日本の
O fluxo e refluxo do poder imperial chinês não afetaram muito a duradoura influência da civilização e da cultura chinesa por toda a grande região da Ásia Oriental sobre a qual a China foi tantas vezes e durante tanto tempo o poder supremo. [...] Burma, por exemplo, que sob muitos aspectos faz parte da esfera indiana, no entanto é habitada por povos cuja língua é (como o tai e o vietnamita) "sínica" - da mesma família do chinês. Mais a leste, apesar da ainda óbvia influência da China no Japão e na Coréia, as línguas destes países têm traços do grupo altaico não-sínico (falado pelos povos turcos). Toda a região tende a ser densamente povoada, fato parcialmente explicado pela capacidade de muitos lugares dessa região quente e úmida de produzirem duas colheitas por ano devidas a um trabalho intensivo. Portanto, é uma área de rica variedade de costumes e culturas [...].
As relações formais da China, diferentes das culturais, com os seus vizinhos imediatos, sempre flutuaram de acordo com o seu poder militar. Os Sui estabeleceram o controle sobre o norte do Vietnã (Annam), fizeram conquistas no Tibete e submeteram o ramo oriental dos povos turcos. [...] A Coréia se tornou um Estado vassalo no Período T'ang [...].
[...] Os Sung, por sua vez, foram menos bem-sucedidos ao lidar com os seus vizinhos bárbaros do que os seus antecessores, e na verdade tiveram que pagar tributos a alguns deles. [...] No final, no entanto, não foi a administração de vizinhos vassalos e tributários que propiciou à China imperial um problema insolúvel, mas uma raça bárbara que veio de bem longe. Em 1557 um grupo de portugueses estabeleceu o primeiro assentamento europeu permanente na China, onde ficaram por muito tempo.
* O Japão. Mais ou menos na mesma época, outros portugueses conseguiram sucesso em penetrar no Japão, a mais importante das terras de culturas distintas dentro da esfera de civilização dos chineses [...]. Como o Japão é uma ilha, o mar o protegeu - nunca foi invadido com sucesso - e ajudou a alimentar o seu povo. [...] Por um longo tempo o Japão foi capaz de extrair do exterior o que precisava, enquanto mantinha afastado o que não precisava. Foi também o mar que fez dos japoneses marinheiros [...].
A Coréia é a terra do continente asiático mais próxima do Japão, e os japoneses sempre foram muito sensíveis com relação àquele país. Numa certa época, no século VIII d.C., governantes japoneses mantiveram um território ali [...]. Mas a China foi durante muito mais tempo a soberana nominal da Coréia e sempre foi o poder estrangeiro cujo comportamento importava mais do que qualquer outro para o Japão. Desde tempos muito remotos a China influenciou profundamente o Japão. Embora seus idiomas sejam diferentes, tanto japoneses como chineses são de origem mongol [...]. Nos tempos pré-históricos a tecnologia do bronze parece ter passado da China para o Japão. Posteriormente, depois do colapso dos Han, quando os japoneses começaram a demonstrar muito mais interesse pela Coréia, multiplicaram-se rapidamente os contatos com a grande civilização continental. O título de imperador dado ao governante do Japão, junto com o confucionismo, com o budismo, com o conhecimento do trabalho em ferro, tudo passou da China para o Japão. Os ceramistas chineses foram para o Japão em data muito remota, ali estabelecendo fornos e casando com as nativas, de onde brotaram muitas realizações artísticas do Japão. A escrita chinesa foi adaptada para escrever a língua japonesa e o governo também começou a mostrar traços da influência chinesa. Nos séculos VI e VII, quando a influência chinesa estava no auge, estadistas japoneses reformadores fizeram grandes esforços para estabelecer um governo centralizado, com um serviço civil nos moldes chineses, baseado no mérito e não na origem, e com um imperador que fosse um verdadeiro governante e não apenas o chefe do clã mais respeitado.
Tudo isto pode dar a impressão de que o Japão tomou emprestado do exterior tudo o que o transformou numa nação civilizada. Dada a magnitude da China T'ang e à frequente evidência da influência budista na arte japonesa, seria fácil compreender se isto fosse verdade, mas de fato isto não é assim: as raízes do governo e da civilização japonesa são internas.
As primeiras crônicas japonesas (compiladas no século VIII) explicam como a terra e o povo do Japão foram feitos pelos deuses, mas a mais antiga e segura cronologia provém de fontes chinesas e coreanas de três séculos antes. Mostra que no início do século V o governo já era centrado num imperador. Supunha-se que ele fosse descendente de uma deusa-sol e exercesse uma chefia geral sobre a família nacional japonesa, a partir dos seus domínios ancestrais, situados no que mais tarde seria a província de Yamato. Esta família nacional era organizada em clãs, principais unidades da sociedade japonesa [...].
Entre 500 e 1500 houve dois importantes períodos, onde os clãs individuais dominaram o Japão. No século VIII os Fujiwara chegaram ao topo. Nos dois ou três séculos seguintes eles efetivamente controlaram os imperadores por meio de alianças matrimoniais e relacionamentos que se seguiram. No Período Fujiwara, a capital imperial era Heian, atual Kioto (ou Quioto), onde vivia o imperador, cumprindo o seu pesado cerimonial e os seus deveres religiosos. Mas o poder dos Fujiwara decaiu. Houve uma luta entre alguns clãs, e um general rude e capaz, Minamoto Yoritomo, assumiu o poder em 1185; foi o início da ascendência dos Minamoto (período em geral descrito como Período Kamakura, a partir do distrito onde se encontravam as principais terras dos Minamoto). Os próprios Minamoto abdicaram no século XIV, e o Japão se dissolveu em violentas e sangrentas guerras civis até o século XVI.
* O xogunato. À primeira vista o xogunato não parece muito interessante. Assemelha-se às lutas de barões e grandes famílias da Europa medieval. De fato, foi uma época importante, em que o Japão se desenvolveu em linhas muito peculiares. Para começar [...] o poder imperial mingou e permaneceu nas mãos dos nobres [...]. As funções se tornaram hereditárias, e o direito de arrecadar impostos imperiais foi garantido aos que desfrutavam dos favores dos Fujiwara. Esse eclipse dos imperadores se completou no Período Fujiwara (de 1185 a 1333), quando o governo efetivo passou para o "xogum" (comandante-chefe) Minamoto, que governava em nome do imperador, mas que de fato era independente e acompanhava os interesses do seu próprio clã, cujas terras não ficavam na área de Heian, mas de Kamakura. [...]
[...] na maior parte desse período os japoneses só tinham tido um problema militar "nacional": conter os bárbaros ainos [...]. Muitos japoneses pareciam contentes em aceitar a autoridade do clã, da família e do culto nacional, o xintoísmo.
Outra importante tendência nesses séculos dirigiu-se a uma sociedade muito mais militarizada, em que as virtudes marciais de lealdade, resistência e bravura passaram a ser tidas em grande conceito. Em parte isto aconteceu porque a pequena nobreza e os fidalgos rurais se tornaram mais independentes à medida que a era Fujiwara chegava ao fim. As guerras civis em que os guerreiros se empenhavam para servir aos seus senhores como criados fortaleceu grandemente isso. [...] No Japão, aos poucos emergiu a mais respeitada classe abaixo da grande nobreza: a dos samurais, cujos ideais cavalheirescos desde logo serviram de inspiração aos patriotas japoneses e também muitas vezes ajudaram a tornar a sociedade japonesa muito violenta.
A admiração japonesa pelo guerreiro continuou com um crescente senso de superioridade e invencibilidade militar, que muito se deveu à resistência bem-sucedida a duas tentativas de invasão mongol, a primeira em 1274 e a segunda em 1281. Houve enormes combates, com expedições bem equipadas (entre outras coisas, os mongóis usaram a tecnologia chinesa e catapultas para lançar bombas que explodiam no ar). Na segunda tentativa a frota mongol foi efitivamente destruída e afundou numa tempestade - o camicase, ou "vento divino", visto como intervenção celestial em favor do Japão.
Neste cenário, a sorte dos simples camponeses do Japão só mudou para pior. Por um longo tempo a economia não avançou muito: tecnicamente, a agricultura permaneceu o que sempre fora e não houve crescimento urbano como na China. O Japão conseguiu aos poucos produzir mais alimentos, mas principalmente com o aumento gradual do tamanho das propriedades, e portanto das áreas cultiváveis, e não por meio de avanços técnicos. O camponês pagava pesados impostos, em geral ao seu senhor, a quem o xogunato concedia o direito de cobrar, e cuidava das plantações de arroz que forneciam a maior parte da alimentação dos japoneses. No século XV as coisas pioraram rapidamente. Houve pragas e miséria, os camponeses formaram ligas para se proteger, sob a liderança de guerreiros desempregados, e seguiram-se rebeliões.
No entanto, nesta pobreza apoiava-se uma brilhante civilização. Sob o domínio Fujiwara, o brilho ficou restrito ao círculo da Corte imperial, mas depois chegou a ser repartido por toda a classe dominante. Gradualmente o Japão afastou as influências culturais chinesas ou as reformas segundo as suas necessidades. Apareceram a literatura japonesa e o drama nô - combinação única de poesia, mímica e música, levada a efeito com elaborados figurinos e máscaras. É interessante notar que alguns dos mais famosos livros japoneses tenham sido escritos por mulheres da Corte Heian [...].
Algumas das mais belas obras de arte provém desta cultura. Os artistas japoneses sempre enfatizaram a proporção, a simplicidade, a perfeita habilidade manual, e demonstraram isto nas cerâmicas, na pintura, nos trabalhos em laca, na tecelagem em seda, bem como em artes muito mais caracteristicamente japonesas, como os arranjos florais, o paisagismo e as belas espadas produzidas pelos armeiros. Grandes artistas desfrutavam de admiração e fama amplamente difundidas. Todas as artes chegaram a uma elevada perfeição durante o mais anárquico período da História do Japão, apesar do prejuízo econômico e social causado pela guerra civil.
Alguns dos belos objetos produzidos pelos japoneses eventualmente começaram a ser vendidos nos mercados externos. No século XV a China era um importante cliente, e os monges budistas desempenharam importante papel no comércio com o Japão. Inevitavelmente o interesse foi despertado e mais cedo ou mais tarde as pessoas queriam saber mais sobre aquele império de ilhas remotas de onde provinham tais tesouros. Entre os curiosos estavam os europeus, e os primeiros a chegar foram os portugueses [...]. Outros logo os seguiram. Na época, as condições internas do Japão não impediam o avanço dos estrangeiros. Nagasaki, uma pequena aldeia, foi franqueada aos portugueses em 1570 por um magnata já convertido ao cristianismo. No entanto, além da fé os intrusos também trouxeram armas de fogo, cujo primeiro impacto na sociedade japonesa seria inflamar ainda mais o apetite por lutas internas. Numa retrospectiva, a avidez com que os japoneses adotaram as novas armas parece um presságio do que aconteceria dois séculos e meio depois: o mais respeitado e bem motivado de todos os processos de modernização deliberada de um povo não europeu.
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 331-338.
[...] na maior parte desse período os japoneses só tinham tido um problema militar "nacional": conter os bárbaros ainos [...]. Muitos japoneses pareciam contentes em aceitar a autoridade do clã, da família e do culto nacional, o xintoísmo.
Outra importante tendência nesses séculos dirigiu-se a uma sociedade muito mais militarizada, em que as virtudes marciais de lealdade, resistência e bravura passaram a ser tidas em grande conceito. Em parte isto aconteceu porque a pequena nobreza e os fidalgos rurais se tornaram mais independentes à medida que a era Fujiwara chegava ao fim. As guerras civis em que os guerreiros se empenhavam para servir aos seus senhores como criados fortaleceu grandemente isso. [...] No Japão, aos poucos emergiu a mais respeitada classe abaixo da grande nobreza: a dos samurais, cujos ideais cavalheirescos desde logo serviram de inspiração aos patriotas japoneses e também muitas vezes ajudaram a tornar a sociedade japonesa muito violenta.
A admiração japonesa pelo guerreiro continuou com um crescente senso de superioridade e invencibilidade militar, que muito se deveu à resistência bem-sucedida a duas tentativas de invasão mongol, a primeira em 1274 e a segunda em 1281. Houve enormes combates, com expedições bem equipadas (entre outras coisas, os mongóis usaram a tecnologia chinesa e catapultas para lançar bombas que explodiam no ar). Na segunda tentativa a frota mongol foi efitivamente destruída e afundou numa tempestade - o camicase, ou "vento divino", visto como intervenção celestial em favor do Japão.
Invasão mongol em 1274 e 1281 repelida com êxito
Neste cenário, a sorte dos simples camponeses do Japão só mudou para pior. Por um longo tempo a economia não avançou muito: tecnicamente, a agricultura permaneceu o que sempre fora e não houve crescimento urbano como na China. O Japão conseguiu aos poucos produzir mais alimentos, mas principalmente com o aumento gradual do tamanho das propriedades, e portanto das áreas cultiváveis, e não por meio de avanços técnicos. O camponês pagava pesados impostos, em geral ao seu senhor, a quem o xogunato concedia o direito de cobrar, e cuidava das plantações de arroz que forneciam a maior parte da alimentação dos japoneses. No século XV as coisas pioraram rapidamente. Houve pragas e miséria, os camponeses formaram ligas para se proteger, sob a liderança de guerreiros desempregados, e seguiram-se rebeliões.
No entanto, nesta pobreza apoiava-se uma brilhante civilização. Sob o domínio Fujiwara, o brilho ficou restrito ao círculo da Corte imperial, mas depois chegou a ser repartido por toda a classe dominante. Gradualmente o Japão afastou as influências culturais chinesas ou as reformas segundo as suas necessidades. Apareceram a literatura japonesa e o drama nô - combinação única de poesia, mímica e música, levada a efeito com elaborados figurinos e máscaras. É interessante notar que alguns dos mais famosos livros japoneses tenham sido escritos por mulheres da Corte Heian [...].
Algumas das mais belas obras de arte provém desta cultura. Os artistas japoneses sempre enfatizaram a proporção, a simplicidade, a perfeita habilidade manual, e demonstraram isto nas cerâmicas, na pintura, nos trabalhos em laca, na tecelagem em seda, bem como em artes muito mais caracteristicamente japonesas, como os arranjos florais, o paisagismo e as belas espadas produzidas pelos armeiros. Grandes artistas desfrutavam de admiração e fama amplamente difundidas. Todas as artes chegaram a uma elevada perfeição durante o mais anárquico período da História do Japão, apesar do prejuízo econômico e social causado pela guerra civil.
Horyu-ji, um dos mais antigos monumentos de madeira no mundo, é um Patrimônio Mundial da UNESCO
Alguns dos belos objetos produzidos pelos japoneses eventualmente começaram a ser vendidos nos mercados externos. No século XV a China era um importante cliente, e os monges budistas desempenharam importante papel no comércio com o Japão. Inevitavelmente o interesse foi despertado e mais cedo ou mais tarde as pessoas queriam saber mais sobre aquele império de ilhas remotas de onde provinham tais tesouros. Entre os curiosos estavam os europeus, e os primeiros a chegar foram os portugueses [...]. Outros logo os seguiram. Na época, as condições internas do Japão não impediam o avanço dos estrangeiros. Nagasaki, uma pequena aldeia, foi franqueada aos portugueses em 1570 por um magnata já convertido ao cristianismo. No entanto, além da fé os intrusos também trouxeram armas de fogo, cujo primeiro impacto na sociedade japonesa seria inflamar ainda mais o apetite por lutas internas. Numa retrospectiva, a avidez com que os japoneses adotaram as novas armas parece um presságio do que aconteceria dois séculos e meio depois: o mais respeitado e bem motivado de todos os processos de modernização deliberada de um povo não europeu.
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 331-338.
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