O escriba do Cairo. Antigo Império.
"Durante a maior parte de sua existência, os humanos pré-históricos foram caçadores e coletores. Com o passar do tempo, foram aprendendo a domesticar animais e a cultivar. O rendimento de suas plantações não era grande, razão pela qual a caça continuou a ser vital para a sobrevivência. Foi preciso conciliar essa atividade com o cultivo e a proteção dos grãos contra o ataque dos pássaros e dos animais herbívoros. Possivelmente foram essas as razões mais importantes para o surgimento dos primeiros vilarejos, por volta do 7º milênio a.C.
Houve, seguramente, uma mudança significativa nas relações sociais e nas comunicações. Se as tribos de caçadores e coletores reuniam um número de aproximadamente 12 a 20 pessoas, os primeiros vilarejos já contavam com algumas centenas (...). Mais pessoas juntas significava mais troca de experiências e mais informações a transmitir e a armazenar. Para Wilbur Schramm:
'Os grupos de caçadores e coletores possuíam poucas coisas - as peles de animais que vestiam, seus machados e lanças e poucos utensílios mais. Nas cidades, foi importante registrar quem tinha o quê. Quando surgiu o medo dos casamentos intrafamiliares, foi necessário um registro das genealogias. Quando, nas cidades, a agricultura passou a fornecer a maior parte dos alimentos, foi preciso conhecer os dias do ano, assim a melhor época para o plantio não seria esquecida. O convívio nas cidades criou mais usos para a comunicação, e mais comunicação estimulou mais instituições e mais cooperação organizada que, por sua vez, estimulou ainda mais comunicação.'
Todo esse acervo de informações precisava ser armazenado para não se perder. O crescimento dos agrupamentos humanos gerou a demanda da transmissão do conhecimento acumulado de forma sistematizada e para um número maior de pessoas do que aquele que se reunia em volta de uma fogueira, para ouvir um narrador.
Passou a ser imprescindível armazenar as informações coletivas que pudessem ser acessadas por diferentes pessoas. Não existem evidências de que a escrita tenha sido criada para enviar mensagens, mas tudo leva a crer que a intenção de registrar está associada à necessidade de lembrar. (...)
A escrita diminuiu o poder original da memória, mas trouxe muitas compensações, permitindo ao homem contemporâneo, que vive numa civilização extremamente complexa, proteger-se contra a sobrecarga dessa mesma memória.
Um sem-número de questões que distrairiam a mente e dissipariam a memória estão guardadas na escrita.
A mesma coisa fazemos hoje ao transferir para a memória de nossos computadores a tarefa de armazenar informações. A diferença é que as máquinas mais sofisticadas armazenam texto, som, imagem estática, imagem em movimento e, em breve, odores. Mas tudo começou lá atrás com a criação da escrita." GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. p. 30-32.
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