"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 28 de junho de 2011

História, memória e sociedade

Militância anarquista reivindicando mais liberdade para a humanidade

As sociedades humanas sempre se preocuparam em transmitir sua memória para as gerações futuras. A memória compõe-se dos testemunhos preservados do passado de uma sociedade, que permitem a reconstituição da sua história.

A "Plaza de las tres culturas" ou "Plaza de Tlatelolco" está situada no centro histórico da Cidade do México, México. Tem esta designação por se encontrar delimitada por edifícios de três épocas históricas do México: cultura pré-colombiana (pirâmides e ruínas do Templo de Tlatelolco), cultura espanhola (Catedral Católica de Santiago) e cultura do México moderno (Torre da Secretaria de Relações Exteriores).


Em algumas sociedades, os testemunhos estão guardados nos mitos e nas lendas, que são passados oralmente de geração para geração. Outras sociedades deixaram seus testemunhos em obras de literatura, em construções, cartas, objetos etc. Mas, em geral, os registros que chegaram até nós representam apenas uma parte da vida dessas sociedades.

Um exemplo disso é a memória deixada pela chamada Idade Média. Quase todos os registros conhecidos sobre a época medieval – cartas, gravuras, construções – informam-nos muito mais sobre a vida dos cavaleiros, reis e sacerdotes poderosos do que sobre o cotidiano da população pobre. O que sabemos, por exemplo, sobre o dia a dia dos camponeses, em geral analfabetos, baseia-se principalmente em registros produzidos pelos clérigos.


Por essa razão, os historiadores que tentam recuperar a memória dos camponeses medievais têm a difícil tarefa de investigar fontes históricas variadas, como restos de construções, ferramentas de trabalho e lendas transmitidas de geração para geração, além dos testemunhos produzidos pelas pessoas poderosas daquela época.

Investigar e elaborar uma reflexão crítica sobre os testemunhos do passado: esse é o trabalho do historiador. Portanto, a história se diferencia da memória por ser uma reflexão sobre os registros preservados do passado.

Além de valorizar apenas os registros escritos, a história, até o início do século XX, estava centrada na vida das grandes personagens do passado, como reis, generais e heróis. Os livros de história limitavam-se a fazer uma narrativa recheada de datas, fatos e nomes considerados importantes na formação de um povo e ou de um país. D. Pedro I e a proclamação da independência; Júlio César e a conquista da Gália; Duque de Caxias e as batalhas da Guerra do Paraguai: esses são alguns exemplos de nomes e fatos que predominavam nos escritos dos historiadores.

Aos poucos, os estudos de história passaram a valorizar a ação dos indígenas, dos negros, dos jovens, das crianças, dos homossexuais, dos pobres e de outros sujeitos sociais, que até então era desconhecida ou desprezada pelos historiadores. Ficamos conhecendo, então, outras versões da história, escritas e contadas do ponto de vista de outros grupos.


"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz". 
(Ferreira Gullar)


Um exemplo é o da história das mulheres. Milhões de mulheres viveram no passado, mas poucas apareceram nos relatos dos historiadores. As mulheres tinham sido excluídas da história. Hoje, historiadores trabalham para recolocar a mulher no palco da história, destacando sua contribuição para as diversas culturas humanas.



BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História - das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2007. 

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