O presente preserva o passado. Recursos financeiros e tecnológicos de nossos dias, sob a orientação das Nações Unidas, sem consideração de procedência, protegem valores históricos que, pertencendo materialmente a um país, são, no seu significado cultural, de toda a Humanidade. Uma represa para obras hidrelétricas afogaria esses testemunhos da História.
A LUTA PARA RECUPERAR TESOUROS
(Scheila Machado)
“Países usam diplomacia e tribunais para reaver artefatos saqueados ou tomados em guerras. Iraque é vítima de pilhagem”.
Por todo o mundo, países de onde saíram tesouros arqueológicos lutam para ter de volta parte de seu patrimônio. A onda inclui a Itália, que há três meses fez sentar no banco dos réus curadores de museus americanos acusados de recepção de artefatos contrabandeados. Também estão na briga o Peru, que reúne documentos para levar a Universidade de Yale a juízo – por não devolver peças retiradas de Machu Picchu em 1911 – e o México, que pediu à Áustria a devolução de uma tiara asteca, com 450 brilhantes esverdeados. A batalha pela recuperação histórica é antiga, foi inaugurada em 1820, quando a Grécia pediu que o Museu britânico devolvesse os Mármores Elgin, mas raras vezes envolveu tantos Estados ao mesmo tempo. O próximo a entrar no ringue, apostam especialistas, será o Iraque.
- Nos anos 60 e 70, a moda do mercado negro eram peças do México e do Camboja. Agora, são os artefatos roubados de sítios arqueológicos da antiga Babilônia. São objetos belíssimos, vasos, pedras, medalhas com inscrições e figuras – revela ao JB Roger Atwood, autor do livro Stealing History: Tomb Raiders, Smugglers and the Looting of the Ancient World (Roubando a história: violadores de tumbas, contrabandistas e saqueadores do Mundo Antigo).
Atwood esteve no Iraque em 2003, logo depois que os americanos forçaram o ex-ditador Saddam Hussein a abandonar o poder, e lembra que o patrimônio babilônico estava sob pilhagem.
- Visitei seis sítios arqueológicos. Todos estavam sob algum tipo de assalto. Vi pessoas negociando as peças no meio da rua – conta. Ainda hoje é difícil obter informações sobre o que restou, porque especialistas temem ser seqüestrados. Poucos se dispõem a ir lá investigar.
O americano tem certeza de que o Iraque é hoje o país mais vulnerável a saques ao patrimônio cultural.
(...)
Há ainda a questão do Egito e outros países da África que tiveram seus bens levados pelos estados europeus no século XIX e durante as Primeira e Segunda guerras mundiais. Embora nenhum deles tenha ido a tribunais internacionais pedir a devolução de múmias, colunas de mármore e papiros, começa a tomar corpo uma tendência de levar algumas peças de volta para casa. (...)
Jornal do Brasil. 12 fev. 2006.
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