[...] Nosso cotidiano está impregnado de hábitos, costumes e objetos que vêm de muito mais longe do que se pode imaginar. [...]
Pensemos num dia comum de uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais: ela põe sua roupa de baixo [...], veste calças compridas [...], passa um cinto fechado com fivela [...]. A seguir, põe uma camisa e faz um gesto simples, automático, tocando pequenos objetos que também relembram a Idade Média, quando foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ela põe os óculos (criados em torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua aparência num espelho de vidro (concepção do século XIII). Por fim, antes de sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de fins do século XIV) para ver como está o tempo. [...]
Sentindo fome, a pessoa levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando o gesto inaugurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um mecanismo para medir o passar do tempo, independentemente da época do ano e das condições climáticas. Sendo hora do almoço, a pessoa vai para casa ou para o restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! [...] Da mesma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada por volta de 1285) e garfo (século XI, de uso difundido no XIV). Terminada a refeição, a pessoa passa no banco que, como atividade laica, nasceu na Idade Média. Depois, para autenticar documentos, dirige-se ao cartório, instituição que desde a Alta Idade Média preservava a memória de certos atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em que pouca gente sabia escrever.
FRANCO JUNIOR, Hilário. “Somos todos da Idade Média”. In : Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, n. 30. Rio de Janeiro: SABIN, março/2008. p. 58-60.
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