A descoberta de Moisés, Lawrence Alma-Tadema
Em algum momento do século XX antes da nossa era, uma tribo de pastores semitas, pequena e pouco conhecida, saiu da sua terra natal, situada no país de Ur, perto da foz do Eufrates, e viajou em busca de novas pastagens dentro dos domínios dos reis da Babilônia. Perseguida pelos soldados do rei, caminhou para oeste à procura de um pedacinho de território desocupado onde seus membros pudessem levantar suas tendas.
Esses pastores eram os hebreus, ou os judeus, como os chamamos hoje. Vagaram muito e por muitas terras, e depois de anos e anos de penosas peregrinações encontraram abrigo no Egito. Por mais de cinco séculos residiram entre os egípcios e, quando seu país de adoção foi dominado pelos bandoleiros hicsos, conseguiram mostrar-se úteis aos invasores estrangeiros e puderam reter sossegadamente a posse de suas pastagens. Porém, ao cabo de uma longa guerra de independência, os egípcios expulsaram os hicsos do vale do Nilo e tempos difíceis vieram para os judeus, que foram rebaixados à categoria de escravos comuns e forçados a trabalhar na construção das pirâmides e das estradas reais. Como as fronteiras eram guardadas por soldados egípcios, era impossível aos judeus escapar.
Depois de muitos anos de sofrimento, foram salvos do seu miserável destino por um jovem judeu chamado Moisés, que por muito tempo residira no deserto e lá aprendera a apreciar as virtudes simples dos seus mais remotos antepassados, que se mantinham afastados das cidades e da vida citadina e se recusavam a deixar-se corromper pelas facilidades e pelo luxo de uma civilização estrangeira.
Moisés decidiu reacender em seu povo o amor pelo modo de viver dos patriarcas. Conseguiu fugir das tropas egípcias que foram enviadas em seu encalço e conduziu sua tribo para o coração da planície situada aos pés do monte Sinai. Durante o longo período que passara sozinho no deserto, aprendera a venerar o poder do grande Deus do Trovão e das Tempestades, que regia os altos Céus e do qual recebiam os pastores a subsistência, a luz e o próprio sopro vital. Esse Deus, uma das muitas divindades que eram adoradas por toda a Ásia ocidental, era chamado Jeová, e, através dos ensinamentos de Moisés, tornou-se o Senhor único da raça hebraica.
Certo dia, Moisés desapareceu do acampamento dos judeus. Comentava-se à boca pequena que ele se fora levando nas mãos duas placas de pedra lascada. Naquela tarde, o topo da montanha se escondeu da vista das pessoas, ocultado pela escuridão de uma tempestade terrível. Mas, quando Moisés voltou, eis que estavam gravadas nas tábuas de pedra as palavras que Jeová dirigira ao povo de Israel entre o estrondo dos trovões e o fragor dos relâmpagos. E, a partir daquele momento, Jeová foi reconhecido por todos os judeus como o Senhor absoluto do seu destino, o único Deus verdadeiro, que lhes ensinara a viver uma vida santa, intimando-os a pautar sua condita pelas sábias lições dos Dez Mandamentos.
Os israelitas seguiram Moisés quando este os chamou a continuar sua jornada pelo deserto. Obedeceram-no igualmente quando lhes ensinou o que comer, o que beber e o que evitar a fim de não caírem doentes com o clima quente. E por fim, ao cabo de muitos anos de peregrinação, chegaram a uma terra que parecia agradável e próspera. A terra se chamava Palestina, ou seja, o país dos "Pilistu", dos filisteus [...] a Palestina já era habitada por outra tribo semítica, a dos cananeus. Mas os judeus entraram à força naqueles vales, construíram cidades para si e edificaram um grande templo na cidade a que deram o nome de Jerusalém, a morada da paz.
Quanto a Moisés, já não era o comandante-chefe de seu povo. Só de longe pudera avistar as cadeias montanhosas da Palestina, e depois disso fechara os olhos para sempre. Esforçara-se e trabalhara com fidelidade para agradar a Jeová. Não só libertara seus irmãos da escravidão numa terra estrangeira como também os conduziu a uma vida livre e independente num país novo; e, acima de tudo, fez dos judeus a primeira de todas as nações a adorar um único Deus.
VAN LOON, Hendrik Willem. A história da humanidade. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 37-40.
NOTA: O texto "Moisés [A história de Moisés, líder do povo judeu]" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.
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