Grafite: Homenagem a Aimé Cesaire. Amaury Colyr Bonnin
I - Negritude (poema de Aimé Cesaire)
Aqueles que não inventaram a pólvora nem a bússola;
Aqueles que nunca souberam domar o vapor nem a eletricidade.
Aqueles que não exploraram nem os mares nem o céu.
Porém aqueles sem os quais a terra não seria terra.
Minha negritude não é uma pedra, sua surdez se arremete como
o clamor do dia.
Minha negritude não é uma mancha d’água estancada sobre o
olho morto da terra.
Celeiro onde se conserva e amadurece o que a terra mais tem
de terra.
Minha negritude não é nem uma torre nem uma catedral.
Ela se crava na carne rubra do solo.
Ela se crava na carne ardente do céu.
Ela perfura a prostração opaca de sua paciência tensa.
Posto que para encerrar-me nesta única raça,
sabes, contudo, meu amor tirânico,
sabes que não é por ódio às outras raças
que me faço lutador desta raça única,
pois o que quero
é pela fome universal
pela sede universal.
Obrigá-la, livre afinal,
a produzir do interior de sua intimidade
a suculência dos frutos.
(Aimé Cesaire)
Extraído de La poesia negra africana. Santiago: Ediciones
Nueva Universidad, 1971. p. 12-15. In: BRAUDEL, Fernand. Las civilizaciones
actuales. Madri: Editorial Tecnos, 1969. p. 142.
II - Negritude (conceito de Aimé Cesaire)
"Partindo da consciência de ser negro, o que implica em assumir seu destino, sua história, sua cultura, a negritude é um mero reconhecimento desse fato e não comporta nem racismo nem renegar a Europa, ou outra exclusão, mas, pelo contrário, uma fraternidade entre todos os homens. Existe, não obstante, uma solidariedade maior entre os homens de raça negra; não em função de sua cor mas sim por uma comunhão de cultura, história e temperamento".
Extraído da introdução de Luís López Alvares ao livro de Aimé Cesaire, Poemas. Barcelona: Plaza y Janes, 1979. p. 11)
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