A Grande Esfinge e a Pirâmide de Gizé. Esculpida
a partir de pedras calcárias locais, no terceiro milênio a,C., uma das mais
antigas esculturas mundiais, retrata uma criatura meio humana, meio leão que se
acredita ser um faraó.
O colossal monumento de pedra, conhecido como Esfinge,
guarda as grandes pirâmides do antigo Egito na planície de Gizé. Possuindo mais
de 10 vezes a altura de um ser humano, a Esfinge - uma escultura que é parte
homem, parte deus e parte animal - foi construída por volta de 2600 a.C.
Ela serve como uma poderosa lembrança do passado egípcio. Embora tendamos a
considerar esses tesouros monumentais como memórias culturais imutáveis, esse
não é o caso. No tempo do faraó Thutmose IV, na época de 1401 a.C., a
Esfinge já era antiga, já havia sido alterada e necessitava de uma grande
reforma. De acordo com as inscrições em uma placa de granito vermelho, erigida
em frente à estátua, Thutmose removeu a areia do deserto e restaurou o corpo de
leão danificado com grandes blocos de pedra-calcária, para a proteção contra a
erosão do vento.
Após outros mil anos, os gregos e os romanos visitaram e
novamente reformaram a Esfinge. O historiador grego Heródoto (século V a.C.)
passeou pelo Vale e escreveu o guia turístico definitivo até antes do século
XIX. Começando com os romanos, os visitantes também roubaram monumentos
menores, mais fáceis de carregar, tentando se apropriar de seus poderes como
ícones históricos. A apropriação da história, aparentemente, é tão antiga
quanto os monumentos. No século XV, líderes islâmicos desfiguraram a grande
escultura, temendo que os egípcios locais ainda prestassem homenagens à sua
grandiosidade e durabilidade. Um provérbio árabe diz que "o homem teme o
tempo, mas o tempo teme as pirâmides". Saqueadores modernos, na forma de
caçadores de tesouros e cientistas, apareceram na época do imperador francês
Napoleão, cujas tropas invadiram o Nilo, em 1789, e redescobriram a Esfinge,
seguidos por exploradores e arqueólogos europeus que começaram a cavar centenas
de tesouros antigos, que eventualmente foram encaminhados para museus e
coleções ao redor do mundo.
Hoje, se a Grande Esfinge pudesse olhar para trás, ela
contemplaria uma paisagem transformada, desfigurada por restaurantes de fast-food,
poluição do ar e turistas. A vista à sua frente permanece como as areias do
deserto do Saara; como as areias do tempo, elas estão sempre mudando. Que a
Esfinge e outros monumentos do Vale do Nilo sobrevivessem aos milênios era
precisamente a intenção dos egípcios, que os construíram e pintaram com cores
vivas na antiguidade. Contudo, sua intenção também era a de que nunca mais
alguém entrasse nesses monumentos. Enquanto as gerações posteriores trataram as
grandes estruturas como monumentos humanos, para os antigos egípcios esses
monumentos eram algo cósmico e eterno. Ainda assim, a deterioração das faces de
pedra da Grande Esfinge continua em uma velocidade alarmante. Talvez seja
apropriado que o símbolo do serviço de internet América Online seja
uma pirâmide, pois as centenas de sites dedicados ao antigo
Egito talvez logo sejam a única forma de visitar tais monumentos como a Grande
Esfinge.
A memória não é nem tão durável nem tão monumental como uma
pirâmide. Ideias sobre o passado podem ser inseridas nos relatos que os
historiadores contam ou nas canções que as crianças cantam. Elas podem refletir
nos objetos ou nas tecnologias que criam o mundo material. [...]
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial:
jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 271-272.
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