Hiroshima após a bomba atômica. A total destruição de Hiroshima prenunciou uma nova época. As armas nucleares deram à humanidade a capacidade de destruir a civilização.
A II Guerra Mundial foi a mais destrutiva da história. As estimativas do número de mortos sobem a 50 milhões, incluindo 20 milhões de russos, que sacrificaram, em população e recursos materiais, mais do que os outros participantes. A guerra provocou uma enorme migração de povos, sem paralelo na história europeia moderna. A União Soviética anexou as terras bálticas da Letônia, Lituânia e Estônia, deportando pela força muitos dos habitantes para a Rússia central. A maior parte da Prússia oriental foi ocupada pela Polônia, e a Rússia anexou a parte leste. Milhões de alemães fugiram, ou foram expulsos, da Prússia, de regiões da Tchecoslováquia, Romênia, Iugoslávia e Hungria, onde seus ancestrais haviam vivido durante séculos. Os custos materiais foram espantosos. Por toda parte, cidades estavam em ruínas, pontes, sistemas ferroviários, vias fluviais e portos destruídos; terras agrícolas devastadas, gado morto e minas de carvão desabadas. Pessoas sem lar e famintas vagavam pelas ruas e estradas. A Europa enfrentou uma gigantesca tarefa de reconstrução. Recuperou-se, porém, e com surpreendente rapidez, de sua desgraça material.
A guerra provocou uma modificação nas estruturas de poder. Os Estados Unidos e a União Soviética surgiram como os dois mais poderosos Estados do mundo. As grandes potências tradicionais - Inglaterra, França e Alemanha - foram obscurecidas por essas superpotências. Os Estados Unidos tinham a bomba atômica e um imenso poderio industrial; a União Soviética tinha o maior exército do mundo e estendia seu domínio à Europa oriental. Com a Alemanha derrotada, o principal incentivo para a cooperação soviético-americana desaparecera.
Enquanto a I Guerra Mundial foi seguida de uma intensificação das paixões nacionalistas, depois da II Guerra os europeus ocidentais tenderam para a cooperação e a unidade. O período hitlerista convencera muitos europeus dos perigos inerentes ao nacionalismo extremado, e o medo da União Soviética fortificou a necessidade de maior cooperação.
A II Guerra Mundial acelerou a desintegração dos impérios europeus de além-mar. Os Estados europeus não poderiam justificar o domínio de africanos e asiáticos depois de terem lutado para libertar as terras europeias do imperialismo alemão. Nem poderiam pedir a seus povos, esgotados pelo período de Hitler e empenhados com todas as forças na reconstrução, que travassem novas guerras contra os africanos e asiáticos que desejavam a independência. Imediatamente depois da guerra, a Grã-Bretanha abriu mão da Índia, a França deixou o Líbano e a Síria e os holandeses partiram da Indonésia. Nas décadas de 1950 e 1960, praticamente todos os territórios coloniais conquistaram a independência. Nos casos em que a potência colonial resistiu à independência desejada pela colônia, o preço foi o derramamento de sangue.
A consciência da Europa, profundamente atingida pela I Guerra Mundial, foi, mais uma vez, gravemente ferida. As teorias raciais nazistas mostraram que numa era de ciência sofisticada, a mente continua atraída por crenças irracionais e imagens míticas. As atrocidades nazistas revelaram que o homem torturará e matará com zelo religioso e uma indiferença maquinal. O ataque nazista à razão e à liberdade demonstrou novamente a precariedade da civilização ocidental.
Esse ataque para sempre lançaria dúvidas sobre a concepção iluminista da bondade e da racionalidade secular humanas e do progresso da civilização mediante os avanços científicos e tecnológicos. Ele corrobora o ponto de vista sustentado por Walter Lippmann de que "os homens foram bárbaros por mais tempo do que foram civilizados. São apenas precariamente civilizados, e dentro de nós existe a propensão, persistente como a força da gravidade, a retornar, quando sob pressão e tensão, ou tentação, à nossa natureza primitiva". Tanto a tradição cristã quanto a iluminista fracassaram no Ocidente.
Alguns intelectuais, chocados com a irracionalidade e os horrores da era hitlerista, caíram em desespero. Para esses pensadores, a vida era absurda, sem significado; os seres humanos não eram capazes de compreendê-la nem controlá-la. Em 1945, somente os ingênuos conseguiam ter fé no progresso contínuo ou acreditar na bondade essencial do indivíduo. O futuro vislumbrado pelos philosophes parecia mais distante do que nunca. Contudo, essa profunda desilusão foi temperada pela esperança. A democracia tinha, com efeito, prevalecido sobre o totalitarismo e o terror nazistas. Talvez então as instituições e os valores democráticos se espalhassem pelo globo, e a recém-fundada Organização das Nações Unidas conseguisse promover a paz mundial.
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma História concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 625-627.
Enquanto a I Guerra Mundial foi seguida de uma intensificação das paixões nacionalistas, depois da II Guerra os europeus ocidentais tenderam para a cooperação e a unidade. O período hitlerista convencera muitos europeus dos perigos inerentes ao nacionalismo extremado, e o medo da União Soviética fortificou a necessidade de maior cooperação.
A II Guerra Mundial acelerou a desintegração dos impérios europeus de além-mar. Os Estados europeus não poderiam justificar o domínio de africanos e asiáticos depois de terem lutado para libertar as terras europeias do imperialismo alemão. Nem poderiam pedir a seus povos, esgotados pelo período de Hitler e empenhados com todas as forças na reconstrução, que travassem novas guerras contra os africanos e asiáticos que desejavam a independência. Imediatamente depois da guerra, a Grã-Bretanha abriu mão da Índia, a França deixou o Líbano e a Síria e os holandeses partiram da Indonésia. Nas décadas de 1950 e 1960, praticamente todos os territórios coloniais conquistaram a independência. Nos casos em que a potência colonial resistiu à independência desejada pela colônia, o preço foi o derramamento de sangue.
A consciência da Europa, profundamente atingida pela I Guerra Mundial, foi, mais uma vez, gravemente ferida. As teorias raciais nazistas mostraram que numa era de ciência sofisticada, a mente continua atraída por crenças irracionais e imagens míticas. As atrocidades nazistas revelaram que o homem torturará e matará com zelo religioso e uma indiferença maquinal. O ataque nazista à razão e à liberdade demonstrou novamente a precariedade da civilização ocidental.
Esse ataque para sempre lançaria dúvidas sobre a concepção iluminista da bondade e da racionalidade secular humanas e do progresso da civilização mediante os avanços científicos e tecnológicos. Ele corrobora o ponto de vista sustentado por Walter Lippmann de que "os homens foram bárbaros por mais tempo do que foram civilizados. São apenas precariamente civilizados, e dentro de nós existe a propensão, persistente como a força da gravidade, a retornar, quando sob pressão e tensão, ou tentação, à nossa natureza primitiva". Tanto a tradição cristã quanto a iluminista fracassaram no Ocidente.
Alguns intelectuais, chocados com a irracionalidade e os horrores da era hitlerista, caíram em desespero. Para esses pensadores, a vida era absurda, sem significado; os seres humanos não eram capazes de compreendê-la nem controlá-la. Em 1945, somente os ingênuos conseguiam ter fé no progresso contínuo ou acreditar na bondade essencial do indivíduo. O futuro vislumbrado pelos philosophes parecia mais distante do que nunca. Contudo, essa profunda desilusão foi temperada pela esperança. A democracia tinha, com efeito, prevalecido sobre o totalitarismo e o terror nazistas. Talvez então as instituições e os valores democráticos se espalhassem pelo globo, e a recém-fundada Organização das Nações Unidas conseguisse promover a paz mundial.
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma História concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 625-627.
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