Banquete dado em Paris em 1378 por Carlos V da França (centro) para Carlos IV, Sacro Imperador Romano-Germânico (esquerda) e seu filho Venceslau, Rei dos Romanos. Por Jean Fouquet, 1455-60. Cada pessoa no jantar tem duas facas, um saleiro quadrado, guardanapo, pão e um prato.
Nas camadas sociais mais baixas predominam os alimentos de origem vegetal em detrimento da carne. Seus regimes alimentares perdem, entre 1050 e 1280, a variedade que os caracterizava na Alta Idade Média. O pão e o vinho suplantam os outros alimentos e os relegam à condição de alimentos complementares. Sua falta, principalmente nas cidades, é intolerável, uma vez que dois séculos de desenvolvimento progressivo da agricultura levaram a um esquecimento quase completo da castanha, da bolota e de outros alimentos desse tipo, exceto nas zonas montanhosas. Nas planícies a coleta e a caça perdem a função de recursos alimentares e se tornam, para a maioria das famílias camponesas, atividades marginais reservadas, em tempos normais, aos pobres (coleta) e nobres (caça).
Porco prestes a ser abatido.
Cada classe social se apropria de uma parte desigual do conjunto dos recursos agrários, silvícolas e pastoris da sociedade. Cada uma lhes atribui valores diferentes e os combina à sua maneira, para constituir seu próprio sistema alimentar. Assim, a mesa torna-se um forte elemento de identidade coletiva.
Um padeiro e seu assistente. Os pães redondos estavam entre os mais comuns.
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A rainha [Petrolina, rainha de Catalunha-Aragão, século XII], assim como a senhora de Montcada, come diariamente pão de trigo e bebe vinho, inclusive durante a Quaresma. Na mesma época, um regime de saúde prescrito pelos membros da escola de Salerno para o rei da Inglaterra desaconselha beber água pura porque ela provoca desarranjos intestinais e dificulta a digestão; ele recomenda o vinho, em especial o branco suave. Os critérios utilizados para selecionar um bom vinho, segundo os "especialistas" italianos, são, na ordem, o aroma, o sabor, a cor e a limpidez.
Um monge provando vinho.
Uma mulher demonstra como tratar e conservar o vinho.
As duas damas catalãs revelam a mesma predileção pelos pratos ricos em carne, dos quais só se abstêm em dias de penitência. As listas de compras revelam uma preferência por carnes finas (galinha, frango, capão e ganso), seguidas por carnes de carneiro, de porco (fresca e salgada) e de cordeiro. Essas carnes, bem temperadas com especiarias (pimenta) e condimentos menos exóticos (cebola e alho), se combinam de diferentes maneiras para constituir cardápios abundantes e diversificados.
Ave sendo assada num espeto. Ilustração de Decamerão, Flandres, 1432.
Camponeses debulhando siligo, um tipo de trigo. Século XV.
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Na dieta alimentar aristocrática, os legumes ocupam um lugar secundário: Guilherme de Montcada só come couve e espinafre uma vez durante os quarenta e três dias que passa em Sentmenat. Em Sant Pere de Vilamajor, a rainha Petronila come grão-de-bico dois dias seguidos durante a Quaresma de 1158 - as teorias da época consideravam esses alimentos de origem vegetal como de difícil digestão para os estômagos refinados da nobreza. A ausência de frutas é total nesses dois regimes; na época elas eram suspeitas aos olhos dos médicos, que recomendavam restringir seu consumo, principalmente no outono.
Freiras jantando em silêncio enquanto ouvem a leitura da Bíblia. Cena de "A vida dos abençoados, Saint Humilty", por Pietro Lorenzetti, 1341.
RIERA-MELIS, Antoni. Sociedade feudal e alimentação (séculos XII-XIII). In: FLANDRIN, Jean-Louis e MONTANARI, Massimo (dir.). História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. p. 395-396.
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