Mauá em 1885, aos 72 anos de idade
Irineu Evangelista de Sousa teve uma infância pobre: ainda criança, estudava e trabalhava como caixeiro de uma loja - tinha apenas nove anos. Aos 16, empregou-se em uma casa comercial pertencente a ingleses, dos quais acabou, mais tarde, se tornando sócio. Fez uma viagem à Inglaterra, o país mais avançado do ponto de vista capitalista. Lá, visitou fábricas e estabelecimentos comerciais, aprendendo novas técnicas empresariais.
Quando retornou ao Brasil, o tráfico de escravos havia terminado, a Tarifa Alves Branco estava em vigor, a imigração tomava impulso, trazendo mão-de-obra livre, e a lavoura cafeeira começava a dar lucros.
Em 1846, Irineu comprou uma empresa em Ponta da Areia (Rio de Janeiro), nela produzindo caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, navios etc. Com apenas um ano de funcionamento, já empregava cerca de mil operários.
Este homem tornou-se Barão e depois Visconde de Mauá. Soube tirar proveito de suas ligações com políticos do governo imperial, recebendo vultosos empréstimos para seus empreendimentos. Associou-se a investidores ingleses e brasileiros em várias realizações: desenvolveu a Companhia de Curtumes e a Companhia Pastoril, Agrícola e Industrial, entre outras. O Visconde de Mauá foi exemplo e estímulo para outros empresários do Império.
Na década de 1850, Mauá se destacou no setor dos serviços públicos, melhoramentos urbanos, como meios de transporte, comunicações e de fornecimento de gás para as ruas do Rio de Janeiro. Implantou os bondes sobre os trilhos, puxados a burro. Foi o pioneiro no setor do transporte ferroviário: inaugurou a primeira estrada de ferro brasileira, da cidade do Rio de Janeiro ao pé da serra de Petrópolis: puxados por uma locomotiva a vapor (apelidada Baronesa), os vagões transportavam pessoas e mercadorias. Iniciava-se a era do Maria-Fumaça.
Por que tal denominação?
Porque, em meio ao agudo silvo do apito, a locomotiva lançava rolos de fumaça através da chaminé, enchendo as roupas dos passageiros de fuligem e fazendo seus olhos lacrimejarem.
Irineu Evangelista de Sousa coroou suas façanhas com a criação do Banco Mauá, Mac Gregor & Cia., que possuía filiais em muitas cidades brasileiras e nos principais centros financeiros mundiais da época: Londres, Manchester, Paris, Nova Iorque, além de representações em países como o Uruguai e a Argentina.
Todavia, o império industrial-financeiro construído pelo Visconde de Mauá acabou falindo.
Como isso aconteceu?
Em 1860, a Tarifa Alves Branco sofreu uma reforma, que lhe tirou o caráter protecionista e abriu o país à entrada de mercadorias estrangeiras. A concorrência estrangeira foi desastrosa para os produtos nacionais.
Outro motivo foi a visão predominante no governo: afirmava-se que o destino do Brasil estava na agricultura! Essa crença, denominada agrarismo, servia também aos interesses do imperialismo inglês, que colocava o Brasil entre os países fornecedores de matérias-primas e consumidores de produtos industrializados. Não interessava ao imperialismo o desenvolvimento industrial autônomo do Brasil.
As empresas de Mauá sofreram toda a sorte de concorrência, inclusive um incêndio criminoso que destruiu o estaleiro da Ponta da Areia. Houve também a perseguição do governo, por parte até mesmo do próprio D. Pedro II, porque Mauá se posicionou contra a Guerra do Paraguai. As empresas de Mauá foram à falência ou vendidas ao capital estrangeiro.
Contudo, a Era Mauá representou a primeira grande modernização da sociedade brasileira e uma tentativa de industrialização.
"No decênio 1850-1860 foram fundadas nada menos de 62 empresas industriais, 14 bancos, 03 caixas econômicas, 20 companhias de navegação a vapor, 23 companhias de seguro, 08 estradas de ferro, além de empresas de mineração, transporte urbano, gás etc."
O Visconde de Mauá constituiu o primeiro capitalista brasileiro de grande vulto. A história de Irineu Evangelista de Sousa reforça a ideia do homem de negócios que vence na vida pelo esforço próprio. Tem todos os melhores ingredientes, como a infância pobre. Afinal, essa é a ideologia capitalista, fundamentada no individualismo, na concorrência. A classe dominante alimenta para as classes dominadas a ilusão de que todos têm as mesmas chances na vida... Sabemos que isto não é uma verdade absoluta!
AQUINO, Rubim Santos Leão de; LISBOA, Ronaldo César. Fazendo a História: a Europa e as Américas do século XVIII ao início do século XX. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996. p. 188-189.
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