"O grande homem é grande não porque suas particularidades individuais imprimam uma fisionomia individual aos grandes acontecimentos históricos, mas porque é dotado de particularidades que o tornam mais capaz de servir às grandes necessidades sociais de sua época, surgidas sob a influência de causas gerais e particulares".
Georg Plekhanov
Bonaparte cruzando a passagem de Saint-Bernard Grand. Jacques-Louis David
É muito difícil prever com segurança quais serão os resultados finais de uma revolução. Quando o processo revolucionário é longo e abarca todos os setores de uma sociedade, mais difícil se torna a previsão. À medida que os acontecimentos vão se sucedendo, as reações das pessoas, dos grupos são incontroláveis. Adquirem, na maioria das vezes, rumos que nem os próprios líderes desejam.
Despedida de Napoleão para a Guarda Imperial no Cheval-Blanc,
Antoine Alphonse Montfort
Com a Revolução Francesa não foi diferente. Três anos após o início da luta armada, o país se viu mergulhado em uma profunda crise interna, sofrendo ameaças externas de todos os vizinhos conservadores. Os monarcas e os nobres temiam que os ventos revolucionários franceses os derrubassem do poder e que aquelas perigosas ideias liberais tomassem conta da cabeça dos trabalhadores e da burguesia.
A República francesa, proclamada em 1702, era dirigida pelos revolucionários da ala mais moderada e com o apoio da alta burguesia que não desejava as medidas radicais da chamada ala dos jacobinos. Entretanto, de 1793 a 1794, foram os jacobinos que dominaram a Convenção e governaram o país. Mas, em 1794, novamente os moderados, chamados de girondinos, através de um golpe, tomaram o poder. Governaram até 1795 e esse período ficou chamado de República Conservadora. Não eram radicais, não defendiam os ideais dos trabalhadores e da pequena burguesia, estavam defendendo a alta burguesia: os donos de indústrias, os grandes comerciantes e os proprietários de terra.
Retrato de Napoleão Bonaparte como Primeiro Cônsul, Ingres
Os moderados criaram uma forma diferente de governar. O poder executivo ficou nas mãos de um grupo, o chamado Diretório. O poder legislativo foi exercido por dois Conselhos. Aos poucos foram acabando com os avanços revolucionários mais radicais, mas enfrentaram crises econômicas e frequentes conspirações. Os revolucionários viviam uma situação de temor e apoiaram a intervenção do exército na política.
O exército foi a força maior com a qual a alta burguesia contou. Conseguiu grandes vitórias no exterior, como a do Egito, onde derrotou os ingleses, e a Itália. À frente desse exército estava a figura que mais e mais se destacava. Era o general Napoleão Bonaparte¹.
Napoleão revista a Guarda Imperial antes da Batalha de Jena, Horace Vernet
O exército foi a força maior com a qual a alta burguesia contou. Conseguiu grandes vitórias no exterior, como a do Egito, onde derrotou os ingleses, e a Itália. À frente desse exército estava a figura que mais e mais se destacava. Era o general Napoleão Bonaparte¹.
¹ "A Revolução Francesa permitira a Napoleão Bonaparte, nascido na ilha de Córsega [...] e educado nas melhores escolas militares da França, ascender rapidamente ao posto de general". (HOLLANDA, Sérgio Buarque de et alli. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 210.)
Bonaparte na Ponte de Arcole . Antoine-Jean Gros
Foi assim que Napoleão deu o golpe militar, dissolvendo o Diretório em 18 de novembro de 1799. Para dirigir o país, Napoleão criou o Consulado formado por três chefes, dos quais ele era um.
Poucos meses depois Napoleão foi eleito cônsul e, em seguida, foi proclamado imperador com o apoio do exército e da alta burguesia. Como imperador, Napoleão governou de 1799 a 1815.
Napoleão Bonaparte no golpe de 18 Brumário em Saint-Cloud, François
Bouchot
São os rumos inesperados da revolução: os liberais aclamaram Napoleão Bonaparte como imperador da França, um imperador com todos os poderes nas mãos; às vezes governava com o absolutismo dos reis tão condenados pelos liberais. Verdadeiramente esses rumos não foram traçados pelos revolucionários de 1789!
Napoleão diante da Esfinge, Jean-Léon Gérôme
Primeira esposa de Napoleão: Imperatriz Josefina em trajes de coroação, François Gerard
Napoleão nunca foi um democrata. Jamais acreditou que se poderia governar no regime democrático. Mas também foi muito mais liberal do que os reis absolutos. Muitas reformas feitas por ele foram tão importantes e necessárias que vigoram até hoje, em quase todo o mundo ocidental.
Entre suas várias reformas algumas provocaram impacto extraordinário. Napoleão subordinou a Igreja ao Estado, que passou a pagar os salários dos padres; criou os liceus e as universidades e determinou que a educação² fosse monopólio do Estado; tornou obrigatório o ensino primário, que ficou a cargo das prefeituras; promulgou o Código Civil, que praticamente influenciou todo o mundo ocidental, e incentivou a industrialização.
Segunda esposa de Napoleão: Imperatriz Marie-Louise, Jean-Baptiste Isabey
² "No setor educacional ordenou o funcionamento de numerosas escolas públicas, até então escassas, para o ensino em diferentes graus, às quais acorreram crianças, adolescentes e jovens, em número cada vez maior". (HOLLANDA, Sérgio Buarque de et all. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 212.)
Napoleão abdicando em Fontainebleau, Paul Delaroche
O período em que Napoleão ficou no poder não foi fácil. Houve crises financeiras, greves nas fábricas e ele usou sua força no sentido de reprimir e vigiar.
A Europa toda foi sacudida por Napoleão e a América, também.
Napoleão atravessando os Alpes, Paul Delaroche
Na Europa, a grande rival era a Inglaterra³, que, já bastante industrializada e com uma economia liberal, não desejava ter a burguesia francesa também ocupando os seus espaços. Mas os outros países, como a Prússia, a Rússia e a Áustria, sentiam o impacto das ideias francesas e tentavam abafá-las.
³ "A Inglaterra, primeira potência naval da época, era o único país que Napoleão não conseguia vencer pelas armas. Como a nação inglesa dependia em grande parte do seu comércio com as demais nações europeias, Napoleão decidiu mover-lhe uma guerra econômica. Para tanto decretou o Bloqueio Continental (1806), isto é, declarou todos os portos europeus fechados a navios e mercadorias inglesas, interditando também o comércio europeu com a Inglaterra. Apesar do bloqueio, a Inglaterra intensificou o comércio de produtos coloniais, procedentes do Extremo Oriente, dos Estados Unidos, e sobretudo de produtos coloniais da América Latina, através de portos do Mar do Norte, do Mediterrâneo e outros de Portugal, seu tradicional aliado". (HOLLANDA, Sérgio Buarque de et alli. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 213.)
[...] A Rússia quebrou o Bloqueio, porque precisava importar produtos industrializados da Inglaterra. Napoleão, furioso, marchou com seu exército contra ela, e enfrentou dificuldades insuperáveis, como o frio e a fome. Foi uma campanha sem sucessos. A derrota foi flagrante e marcou o início de seu declínio.
Retirada de Napoleão de Moscou . Adolph
Norther
Em 1814, a situação do país era tão difícil que Napoleão foi obrigado a abdicar, retirando-se para uma ilha. Voltou logo a seguir e governou mais cem dias. Finalmente, em 1815, numa batalha na Bélgica, em Waterloo, foi derrotado pelo exército inglês e enviado prisioneiro para a ilha de Santa Helena, onde ficou até morrer.
Napoleão em Santa Helena, Francois-Joseph Sandmann
"Na minha carreira encontrar-se-ão erros, sem dúvida; mas Arcole, Rivoli, as Pirâmides, Marengo, Austerlitz, Iena, Friedland são de granito; o dente da inveja nada pode contra elas [...] Eu aterrei o abismo anárquico e pus ordem no caos. Eu limpei a Revolução [...] E depois sobre que poderiam atacar-me de que um historiador não pudesse defender-me? [...] Enfim, seria a minha ambição? Ah! sem dúvida, ele encontra-la-á em mim - e muita; mas a maior e a mais alta que talvez jamais tenha existido: a de estabelecer, de consagrar o império da razão e o pleno exercício, o inteiro gozo de todas as faculdades humanas [...] Em poucas palavras, eis, pois, toda a minha história [...] Milhares de séculos decorrerão antes que as circunstâncias acumuladas sobre a minha cabeça possam encontrar um outro na multidão para reproduzir o mesmo espetáculo." BONAPARTE, Napoleão. O processo Napoleão. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1976. v. III, p. 124.
A Batalha de Austerlitz, François Gérard
O poder político voltou para as mãos da família dos Borboun - Luís XVIII - que governou até 1824. Surpresa nos rumos da grande revolução!
BONAPARTE, Napoleão. O processo Napoleão. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1976. v. III, p. 124.
GARCIA, Ledonias Franco. Estudos de história: sociedades contemporâneas. Goiânia: UFG, 1998. p. 79-83.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de et alli. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 210, 212-213.
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