Frei Bartolomé de las Casas. Anônimo, século XVI.
Depois das enormes e abomináveis tiranias que estes fizeram na cidade do México e nas cidades e muitas terras que há por redor, dez, quinze e vinte léguas de México, onde foram mortas infinitas gentes, passou adiante essa sua tirânica pestilência, e foi infeccionar e assolar a província de Pánaco, admirável pela multidão de pessoas que tinha e os estragos e matanças que ali fizeram.
Depois destruíram da mesma maneira a província de Cututepeque, e depois a província de Ipilcingo e depois a de Colima. Cada uma delas é maior que o reino de Leão e o de Castela. Contar os estragos, mortes e crueldades que fizeram em cada uma será sem dúvida muito difícil e impossível de dizer e trabalhosa de escutar.
É de se notar que o modo com que entravam e pelo qual começavam a destruir todos aqueles inocentes e despovoar aquelas terras, que tanta alegria e gozo deveriam causar aos que fossem verdadeiros cristãos com sua tão grande e infinita população, era dizer que viessem sujeitar-se e obedecer ao rei da Espanha; caso contrário haveriam de matá-los e fazê-los escravos. E aos que não vinham rapidamente cumprir tão irracionais e estúpidas mensagens e colocar-se nas mãos de tão iníquos, cruéis e bestiais homens, chamavam-nos rebeldes e revoltados contra o serviço de sua Majestade. E assim escreviam para cá ao rei nosso senhor.
E a cegueira dos que regiam as Índias não alcançava nem entendia aquilo que em suas leis está expresso e mais claro que qualquer outro de seus primeiros princípios, a saber: que ninguém, é nem pode ser chamado rebelde, se primeiro não é súdito.
[...] E o que é mais espantoso é que, aos que de fato obedecem, colocam em áspera servidão, com incríveis trabalhos e tormentos ainda maiores e que duram mais do que os que lhes dão enfiando-lhes a espada, daí que no final eles perecem, suas mulheres e filhos e toda sua geração.
Las Casas, Frei Bartolomé de. Brevíssima relación de la destrucción de las Indias. In: XIRAU, Ramón. Idea y querella de la Nueva España. Madri: Alianza, 1973. p. 29-30.
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