"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Os grandes impérios medievais da Ásia Oriental

Um grupo de eunucos. Artista desconhecido. Pintura mural do túmulo do Príncipe Zhanghuai, Qianling, Shaanxi. Era Tang. 706 d.C.

1. A China na Idade Média. Quando na Europa Ocidental começaram as invasões bárbaras a China politicamente já conhecia um regime verdadeiramente feudal, no qual 21 Estados independentes viviam constantemente em lutas entre si. Nos fins do século VI, contudo, o país foi unificado por um chefe militar chamado Gao Tsu, que denominou o país de Tang e se proclamou imperador.

O Império Tang viveu uma época de prestígio e refinamentos. Embaixadores da Pérsia e da Arábia visitaram os soberanos chineses. A escultura e a pintura atingiram grande perfeição. Os imperadores da dinastia Tang consideravam-se enviados dos deuses e usavam o título de "filho do céu". Uma aristocracia de funcionários instruídos e mercadores ricos dominava economicamente o país. Insurreições de camponeses e movimentos de independência chefiados pelos governadores das províncias acabaram provocando o desmembramento do Império Tang.

No século X uma nova unificação do país foi feita, iniciando-se a dinastia Sung. Embora os povos nômades do norte não reconhecessem o novo Império Sung e constantes guerras contra os mesmos exigissem a manutenção de grandes exércitos, impostos excessivos e muitas vezes até o abandono das atividades agrícolas, a arte chinesa nesse período floresceu excepcionalmente. As pinturas da época são feitas em telas de seda e desenvolve-se uma arquitetura suntuária com palácios e templos finamente ornamentados com mármores, ouro, porcelanas e esculturas de valor.


Cena de dança. Artista desconhecido. Século X. Dinastia Sung.

Em 1069, um ministro da dinastia Sung, Wang-An-Shih, apresentou um grande plano de salvação nacional, pois as secas dos anos anteriores, as guerras e a exploração haviam levado a China ao caos. Wang-An-Shih colocou sob a direção do Estado o comércio, a indústria e a agricultura, regulou e fixou salários e preços, concedeu pensões para os desempregados e velhos. A avançada experiência de Wang-An-Shih foi asperamente combatida pelos conservadores, que conseguiram revogar quase toda sua legislação.

2. Tártaros e mongóis. Os mongóis constituíam uma horda de cavaleiros nômades da Ásia Central, vivendo em tendas e ocupando-se do pastoreio e da guerra.

Aproximadamente no ano 1200 começou a formação do Império Mongólico. A China foi invadida por um prodigioso guerreiro mongol, Gêngis-Cã, que tomou Pequim e dilatou suas conquistas, ocupando também o Turquestão, a Pérsia, o norte da Índia e a região do Cáucaso. A invasão mongólica fora uma calamidade para os chineses, pois os mongóis devastaram suas terras; porém como estabeleceram na China a base de seu colossal império promoveram posteriormente o desenvolvimento do comércio e das atividades artesanais.


Batalha entre chineses e mongóis. 1430. Sayf al-Vâhidî.

Um de seus sucessores, Cublai-Cã, homem inteligente e de espírito tolerante, tentou um entendimento entre seu império e a cristandade oriental. O contato anterior dos mongóis com o Ocidente tinha sido iniciado com a fabulosa viagem de Marco Pólo e com as conquistas de terras da Europa Oriental. Chegaram os mongóis a dominar o sul da Prússia e ameaçaram as fronteiras do Sacro Império Germânico. Estas conquistas fizeram do Estado mongol o maior império até hoje conhecido e tiveram enorme repercussão sobre as Cruzadas, pois a presença de um novo inimigo a leste diminuiu a importância da luta contra os turcos. A luta entre a Cristandade e o Islã foi, consequentemente, atenuada pela perspectiva de uma grande invasão mongólica.

Após o apogeu do governo de Cublai-Cã (1259-1294), o Império Mongólico declinou rapidamente.

3. A dinastia Ming. Em 1348, no sul da China, começou a grande revolução nacional contra os mongóis, na qual se destacou o líder campon~es Tchu-Ieng-Tchan, que conseguiu ocupar a cidade de Nanquim e proclamar-se imperador. O novo soberano dominava no entanto apenas a China meridional, que denominou de Império Ming; posteriormente uma grande e bem sucedida campanha militar contra os remanescentes mongóis da China setentrional deu-lhe o domínio da antiga capital dos invasores, Pequim, e a posse de todo o país.

A dinastia Ming reina de 1368 a 1664, período de grande prestígio cultural e político para a China. Caracteriza-se por uma série de imperadores cultos e de acentuado gosto artístico que se consegue manter no poder até o dia em que os manchus ocupam o país. A ocupação manchu foi pedida e auxiliada pela própria nobreza feudal chinesa alarmada com uma grande revolução popular que conseguira o domínio da capital (Pequim) e a fuga do último imperador Ming. Os manchus, após debelarem a revolução contra os Ming, recusaram-se a abandonar o país, transformando Pequim em sua própria capital.


Detalhe de uma pintura da Dinastia Ming: Mulher jogando konghou. Qiu Ying. Início do século XVI.

A dinastia manchu identificou-se completamente com a nobreza feudal chinesa e manteve-se no poder até a Proclamação da República em 1912.

4. O Japão. Antes da assimilação da cultura chinesa os japoneses viviam apenas de caça, de pesca e de uma rudimentar agricultura. Durante séculos o Japão constitui-se de uma infinidade de domínios feudais, nos quais exerciam muita influência os samurais, casta militar semelhante à cavalaria medieval europeia. A grande capacidade de assimilação do povo japonês fez com que o budismo, introduzido pela imperatriz Suiko, possibilitasse não somente a unidade de crença mas favorecesse também a unidade política. Um sobrinho de Suiko, Shotoku Taishi (593-621), que governou como regente, compreendeu perfeitamente a superioridade cultural do budismo sobre o antigo culto japonês "xinto", que se baseava no culto dos antepassados. Antevendo as possibilidades políticas do budismo, Shotoku promulgou em 604 um edito em 17 artigos, fundamentado na moral búdica, e dele serviu-se como base para seu governo. Mais ou menos nessa época fixaram-se as tradições japonesas fortemente influenciadas pela cultura chinesa recebida, sobretudo, através da Coréia.


Samurais. Iwasa Katsushige.

A partir de 886 um alto funcionário do governo, o kwambaku, era quem tinha a responsabilidade propriamente de governar. O imperador, intitulado tenshi (filho do céu) ou teno (dominador do céu), entretinha-se com os luxos e os requintes de sua corte, compunha versos, colecionava obras de arte e estudava literatura chinesa. Surgiram assim lutas entre as grandes famílias feudais (Taira, Minamoto, Fujiwara), que disputavam o cargo de kwambaku ou tentavam mesmo absoluta independência.

Durante séculos as lutas entre os grandes senhores feudais assolaram o país. Finalmente um membro da família Minamoto restabeleceu em 1185 o poder central instituindo uma nova forma de governo, o xogunato, ao mesmo tempo que mudava a capital de Kioto para Kamakura. O xogunato mantém teoricamente a autoridade do imperador, mas, o submete à tutela de um "xógum", chefe militar todo-poderoso que através de governadores militares nas províncias domina de fato todo o país. Com o xogunato não desapareceu o regime feudal, porém melhoraram as condições de vida dos camponeses e desenvolveu-se relativamente o comércio.

Ao findar a Idade Média o xogunato ainda era o regime vigorante no Império do Sol Levante.

5. A expansão otomana. Os turcos otomanos eram originários do Turquestão. Deslocados pela primeira invasão de Gêngis-Cã, emigraram para o sudoeste, fixando-se nas planícies da Ásia Menor entre os turcos seljúcidas. Gradativamente foram dominando os seljúcidas e abraçando o islamismo. No século XIV já existia um Império Otomano, bem organizado e economicamente forte, cujo nome era uma homenagem a seu fundador, Otmã.


Exército otomano marchando sobre a cidade de Túnis. 1581. Sehname-i Selim Han

Atravessando os Dardanelos, os otomanos penetraram na Europa. Nos sérvios e búlgaros encontraram eles certa identidade racial e cultural. Os turcos, que falavam uma só língua, tinham maior senso de unidade e eram melhores soldados, unificaram então quase toda a região balcânica e impuseram o islamismo. Andrinopla tornou-se sua principal cidade. Constantinopla viu-se cercada lentamente e a Hungria cristã serviu de fronteira entre o islamismo otomano e o cristianismo europeu.

Os otomanos organizaram uma força militar permanente, na qual se destacavam os janízaros, tropas formadas por jovens imbuídos da mística militar de sua organização. Constituíam uma infantaria eficiente e bem paga.

Em 1453, um sultão otomano, Maomé II, alcançou o grande objetivo de seus antecessores. Constantinopla foi cercada e atacada pelo lado europeu por uma grande infantaria. O imperador Constantino XII foi morto, seguindo-se a pilhagem da cidade. A igreja de Santa Sofia foi transformada em mesquita.

SOUTO MAIOR, Armando. História geral. São Paulo: Nacional, 1979. p. 200-205.

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