Imagem produzida por Barleús em 1647. Provavelmente trata-se de um posto de observação à beira de um rio que serve de local de pescaria.
Os escravos reagiam de diferentes maneiras diante da violência e da opressão provocadas pelo sistema escravista. Da mesma forma que promoviam fugas e revoltas, aproveitavam a existência de pequenos espaços para a negociação. Espaços que eles próprios conquistaram ao mostrarem aos senhores a necessidade de terem certa autonomia para o bom funcionamento do sistema escravista. Os senhores conscientes de que dependiam do trabalho escravo - que não raro era especializado - permitiam uma margem para a negociação. Por meio de várias estratégias, que iam desde o enfrentamento direto até a obediência e a fidelidade para com o senhor, encontravam formas para alcançar a liberdade. [...]
[...]
Alguns escravos fugidos construíam comunidades independentes, mas não muito isoladas, para que pudessem interagir com a sociedade, comercializando sua produção agrícola, mesmo que de forma clandestina, com a ajuda de pequenos comerciantes, agricultores e até mesmo escravos.
Uma das características das comunidades formadas por escravos fugidos era a existência de alianças com outras camadas sociais: indígenas, comerciantes, pequenos agricultores. Conhecidas como quilombos, ou mocambos, essas comunidades foram aparecendo em várias localidades brasileiras próximas aos engenhos, às minas de ouro e pedras preciosas, nos sertões e nos campos.
À medida que os mocambos iam surgindo, cada vez em maior número e em diferentes locais, a repressão aumentava, sendo feita por iniciativa dos proprietários, que colocavam os capitães-do-mato em busca dos fugitivos ou contratavam agregados para capturá-los, ou por iniciativa governamental, com expedições militares e leis mais severas.
[...]
O quilombo dos Palmares, um dos maiores e mais duradouras quilombos brasileiros, datando do século XVII, era composto, majoritariamente, por africanos da região centro-ocidental. Estava localizado na Zona da Mata, a aproximadamente 70 km do litoral, em Alagoas. Havia uma grande aldeia central, na serra da Barriga, chamada de Macaco, que abarcava cerca de seis mil pessoas.
Em Palmares, havia uma complexa estrutura de organização, com ruas, casas, muros, capelas, oficinas de fundição, produção de cerâmica e utensílios em madeira, lavouras de feijão, milho, mandioca e cana-de-açúcar. Era formado por várias aldeias, com seus respectivos chefes. Todas as aldeias eram comandadas por uma comunidade principal, onde ficava o líder do quilombo.
Entre 1645 e 1678, o líder do quilombo de Palmares foi Ganga Zumba. Desde 1612, os portugueses organizavam expedições militares para destruir Palmares. Em 1678, Ganga Zumba fez um acordo com o governador de Pernambuco, Aires de Souza e Castro, que garantiria a posse de terra em Cucaú (norte de Alagoas) e a liberdade aos quilombolas. Contudo, nem todos os palmarinos aceitaram o tratado de paz, entre eles Zumbi, que junto com outros opositores assassinaram Ganga Zumba. O acordo não foi cumprido pelo governo e os quilombolas que se dirigiam para Cucaú foram reescravizados. Zumbi, então, tornou-se o novo líder de Palmares.
Zumbi dos Palmares, Antônio Parreiras
"Palmares e Zumbi se tornaram importantes símbolos da resistência contra a escravidão, sendo o exemplo mais espetacular de um tipo de ação largamente adotada pelos escravos por todo o período escravista". (SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. São Paulo: Ática, 2007. p. 98.)
"A existência desse "Estado" negro formado por escravos fugidos era uma ameaça para a estrutura da ordem colonial e escravocrata. Por essa razão, senhores de engenho e as autoridades da metrópole empenharam-se na sua destruição". (PEDRO, Antonio et alli. História da civilização ocidental. São Paulo: FTD, 2005. p. 213.)
Depois de várias investidas, Palmares foi destruído, em 1694, por uma expedição comandada pelo paulista Domingos Jorge Velho, causando a morte de duzentos quilombolas e a venda de outros quinhentos capturados para outras capitanias. Zumbi e alguns quilombolas conseguiram fugir, mas logo o líder foi preso. Em 20 de novembro de 1695, foi capturado e condenado à morte, tendo a sua cabeça decapitada e exposta em público.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2008. p. 121-122, 137, 144.
Nenhum comentário:
Postar um comentário