Enquanto as nossas poderosas elites políticas se negavam a reformular sua prática administrativa, as vanguardas operárias falavam numa revolução social e os tenentes agitavam os quartéis e as ruas com seus protestos, havia grupos de intelectuais que pensavam em um Brasil modernizado e que manifestasse sua identidade cultural. Entre eles discutia-se de que maneira se poderia construir a autonomia brasileira acompanhando os ares de renovação que atingiam os países desenvolvidos. Já era tempo de o Brasil deixar de simplesmente copiar modelos e construir uma maneira de ver o o mundo que caracterizasse nossa singularidade cultural. A modernidade deveria nos tirar do atraso sem contudo desprezar o passado histórico construído. A questão não era romper radicalmente com as tradições, mas começar a conceber uma nova identidade para o país.
Abaporu, Tarsila do Amaral
Na semana de 11 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, realizou-se o grande encontro de muitos daqueles que desejavam transformar a pintura, a literatura e a música brasileiras. Do evento, denominado Semana de Arte Moderna, participaram, entre outros, Heitor Villa-Lobos, Menotti del Picchia, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. O encontro teve grande repercussão, causando surpresa, críticas, admiração. Ainda em 1922, foi lançada a revista Klaxon, produzida pelo grupo modernista. O movimento teve influência do futurismo, do expressionismo e do surrealismo europeus, que revolucionaram as concepções estéticas da época. Não havia um pensamento homogêneo entre os modernistas brasileiros. Suas manifestações tinham em comum a busca de renovação cultural e uma forte dose de nacionalismo. Os caminhos seguidos por eles aos poucos se diferenciaram, formando-se grupos.
Capa da revista Klaxon, lançada em 1922
Oswald de Andrade, uma das lideranças expressivas do movimento, publicou em 1923 Memórias sentimentais de João Miramar, obra inovadora na prosa brasileira. No Manifesto Antropofágico, de 1928, o escritor deixava clara sua ligação com as vanguardas europeias, mas ressaltava também nossas raízes históricas: "Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente."
O ímpeto inicial que unia os modernistas era a renovação, a mudança, o rompimento com as regras acadêmicas. "Estamos fartos da Europa e proclamamos sem cessar a liberdade de ação brasileira", propunha em manifesto outro grupo modernista, o Verde-Amarelista, em 1929. Entretanto, tal união logo se estremeceu, pois alguns modernistas seguiram depois caminhos politicamente conservadores, como Plínio Salgado, ligado ao Verde-Amarelismo, que foi uma liderança importante do movimento integralista na década de 1930.
Na literatura modernista também se destacou Mário de Andrade, que em Macunaíma evidencia uma nova linguagem e o vínculo de sua obra com as raízes culturais brasileiras.
Merecem destaque os diversos ciclos de cinema que ocorreram na década de 1920 em várias cidades brasileiras. produto das importantes inovações técnicas da época, o cinema atraía as pessoas. Representando a modernidade na cultura, constituía os sinais evidentes de uma produção cultural voltada para o grande público. Os cinemas das cidades passavam os filmes famosos produzidos na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, nas primeiras décadas do século XX, foram realizadas no Rio de Janeiro, Recife, São Paulo e Minas Gerais produções cinematográficas de sucesso. A primeira filmagem de que se tem notícia em São Paulo data de setembro de 1889, ou seja, antes da virada do século XX. O Rio de Janeiro tinha, no começo da década de 1920, salas para cerca de trezentos espectadores. No Recife, filmes como A filha do advogado e Aitaré da praia, produções regionais, fizeram muito sucesso. São notícias de um Brasil ainda pouco conhecido e que buscava criar sua modernidade.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p.504-505.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005. p.504-505.
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