Família tupinambá, John White
Os índios americanos teriam origem asiática. Sua entrada no continente? Entre 25.000 e 33.000 anos atrás. Acredita-se que entraram por uma conexão terrestre que seria hoje o Estreito de Bering. O mais provável é que tenham penetrado em sucessivas migrações ao longo de um lapso de tempo indeterminado. Que talvez tenha durado séculos ou milênios, e foram se esparramando até chegar ao extremo sul mais remoto, a chamada Terra do Fogo.
Parece haver provas suficientes de que eles também teriam chegado por via marítima, vindo das longínquas ilhas da Polinésia, realizando prodigiosas navegações em naus bastante frágeis.
Que conhecimentos esses povos asiáticos tinham? Quais eram as diferenças entre eles? Não sabemos. Assim como não sabemos os motivos que os fizeram abandonar suas terras de origem. Só possuímos presunções.
Não há dúvida de que na nova terra enfrentaram problemas de diferentes naturezas para a subsistência. Alguns povos os resolveram. Outros, provavelmente, sucumbiram. Obviamente, cada povo, tribo ou como se queira chamar aquelas comunidades humanas, enfrentou os desafios da natureza com suas próprias armas, com o conhecimento que possuíam. Problemas similares encontraram diferentes soluções, todas válidas na medida que permitiram subsistir e manter a coesão das comunidades. Alguns povos foram mais felizes nas suas conquistas, talvez por estar melhor preparados, pelas condições do meio ambiente natural, mais favoráveis, ou porque ambos os fatores coincidiram. Quando Cristóvão Colombo descobriu a América, o desenvolvimento cultural, social e econômico dos diferentes povos era extremamente heterogêneo, e a distribuição da população era também desigual.
Nos lugares em que foi possível retirar do trabalho produtivo de alimentos massas consideráveis de pessoas, abriu-se a possibilidade para a construção de cidades, templos, palácios, fortalezas, diques, caminhos, aquedutos; para elaborar uma ciência, uma arte e uma produção espiritual bastante refinadas. Ali tornou-se também possível a construção de vasta s e complexas estruturas políticas, a criação de castas de sacerdotes e burocratas; o desenvolvimento de mercadores, transportadores, médicos, engenheiros, arquitetos, historiadores, poetas, etc. Esse fenômeno aconteceu no vale do México, península do Yucatã e parte da Guatemala, e no vasto território andino onde se constituiu o Império Inca. Em menor medida na atual Colômbia, entre os chibchas. [...]
O historiador Pedro Armillas divide os períodos culturais anteriores ao descobrimento da seguinte maneira:
* Pré-agrícola: Teria transcorrido entre os anos 25.000 e 3.000 antes da nossa era. As comunidades caçavam, pescavam e colhiam os frutos naturais. Ao final do período, alguns povos implantaram a agricultura.
* Proto-agrícola: Entre os anos 3.000 e 500 antes da nossa era. Desenvolve-se a agricultura nas áreas das futuras grandes civilizações. O resto continua na etapa anterior.
* Civilização: Aproximadamente do ano 500 antes da nossa era até o século XV. Surgem as civilizações asteca, maia e inca. Nascem as cidades, os caminhos e os aquedutos. A agricultura utiliza os canais de irrigação e o cultivo em terraços. Conhece-se a escrita, a educação pública e o comércio. Florescem prodigiosas manifestações artísticas, a maioria delas vinculada aos cultos e rituais religiosos.
Watu Ticuba, uma vila Wapisiana, Charles Bentley. [Mulheres indígenas da Guiana em atividades cotidianas]
Na época do descobrimento, o desenvolvimento é claramente desigual. Os espanhóis constataram, rapidamente, que os tainos das grandes Antilhas (Cuba, São Domingos) eram extremamente pacíficos, cultivavam o algodão e esculpiam a pedra. Não longe deles, os caribes (dos quais teria derivado a palavra "canibais") eram valentes guerreiros. Os chibchas que habitavam os planaltos de Bogotá e Tunya (Colômbia), pareciam estar prestes a organizar uma espécie de império. Os maias, também conhecidos como maias-quichés, estavam vivendo um tempo de decadência. A Confederação Asteca mostrava-se em pleno crescimento.
Elementos principais e decisivos para uma organização social são:
- o cultivo de cereais e outras plantas alimentícias;
- a qualidade nutritiva desses cultivos;
- a técnica utilizada e a produtividade lograda;
- a domesticação de animais para consumo, transporte e fornecimento de matérias-primas (lã, couro, crina, etc.).
No México tinha-se conseguido domesticar o peru, enquanto os tainos não tinham conseguido domesticar nenhum animal. Nas regiões andinas, o homem transformou a lhama e a alpaca em animais de carga [...] e deles extraía lã para tecidos e carne para consumo. O guanaco e a vicunha, ainda que tenham continuado selvagens, forneciam carne e couro. Determinadas tribos criavam tartarugas para alimento e abelhas para aproveitar o mel. O papagaio fornecia penas para enfeites e serviu para diversão. [...]
As grandes civilizações desenvolveram uma agricultura comparada às melhores do mundo na época. Plantas como o cacau, milho, batata, mandioca, tomate, abacate, amendoim, goiaba, mamão, abacaxi e muitas outras são americanas. A essas, deve-se acrescentar uma infinidade de ervas e raízes medicinais, e plantas ornamentais. Madeiras que seriam apreciadas no mundo inteiro, são nativas do continente.
POMER, León. História da América hispano-indígena. São Paulo: Global, 1983. p. 3-5.
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