A Europeia. Esta jovem egípcia, com a garganta coberta por uma surpreendente rede de ouro fechada por um grande broche verde, e com seus imensos olhos negros que se desviam, exprime a melancolia de ter tão cedo deixado o mundo dos vivos. Antinoupolis, reinado de Adriano.
No oásis de Fayum, não muito
longe da cidade do Cairo, são descobertos, no século XIX, túmulos datados da
época da dominação romana (a partir do século I), contendo sarcófagos muito bem
conservados, graças à secura do ar. A originalidade desses sarcófagos é que
eles trazem o retrato do defunto, pintado com encáustica ou têmpera, sobre uma
tabuleta de madeira ou uma tela de linho. Foram encontrados mais de 600,
notáveis por sua qualidade artística e sua variedade. Alguns retratos foram
executados por artistas populares, sem habilidade para respeitar as proporções
do rosto, outros são assinados por pintores famosos. A partir de quatro cores
básicas, branco, amarelo, vermelho e preto, o artista se empenha em transmitir
a textura da carne, o brilho dos grandes olhos sombrios, a delicadeza dos
traços, a expressão original de cada homem, mulher ou criança. A Europeia, da
cor de pêssego; a Jovem com joias, penteada com tranças e anéis brilhantes;
Aline, de rosto cheio; a bela Zenóbia de rosto harmonioso e olhar pensativo; os
dois irmãos representados lado a lado num tondo (formato circular de pintura),
conservam todo o seu frescor. A técnica de certas pinturas anuncia os ícones
bizantinos ou as obras de pintores tão diferentes como Vermeer, Velásquez,
Greco, Modigliani, Matisse ou Picasso.
Retrato dos dois irmãos
Retrato de um menino
Efebos sensuais, militares
barbudos, encantadoras jovens, mulheres orgulhosas por exibir suas joias,
matronas cansadas, crianças desaparecidas demasiado cedo, toda a sociedade do
Egito romano é ressuscitada graças a essa surpreendente galeria de retratos,
única em seu gênero, associando a prática egípcia do sarcófago à arte romana do
retrato.
SALLES, Catherine [dir.]. Larousse das civilizações antigas 3: das
bacanais à Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 282-283.
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