"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Aparecimento da escritura na América Central

Os maias aperfeiçoaram ao máximo a escrita. Não são, contudo, seus inventores. Outras civilizações deixaram, antes deles, testemunhos da existência de textos elaborados, monumentos datados. Alguns indícios dispersos, o desenho de uma pata ou de uma cabeça de pássaro, não permitem atribuir à civilização olmeca (1500-400 a.C.) a concepção de um sistema codificado. O monumento 1 de El Portón, de cerca de 400 a.C., traz uma breve inscrição. Fora da área maia, em Oaxaca, glifos foram encontrados em monumentos que remontariam a 500 a.C. Trata-se de nomes próprios, como “Um Terremoto” do monumento 3 de San José Magote, talvez topônimos.

É em 31 a.C. que se pode, com a estela C de Três Zapotes, provar a existência de uma contagem do tempo, que implica cálculos complexos e um registro escrito. Outros textos, nos sítios maias de El Baúl, de Kaminaljuyú ou de Takalik Abaj, e na estatueta de Tuxtla, comprovam essas decifrações, mesmo se as datas são muitas vezes mais tardias (37).

Glifos maias, Palenque.

A prova definitiva remonta à descoberta, em 1986, da estela de La Mojarra: um texto de mais de cem glifos, acompanhado de datas (143-156), relata a epopeia de um senhor da guerra representado no monumento. A análise epigráfica permitiu aos especialistas decifrar a inscrição em língua mixezoque, língua falada por um povo cuja influência se estendia pela costa do Pacífico a Guatemala, no antigo território olmeca, e ao coração do país maia. O dinamismo dessa civilização ainda mal conhecida contribuiu para a formação da civilização maia. A estela de La Mojarra confere uma coerência às decifrações dos outros monumentos.

A instauração de uma escrita codificada é, portanto, estabelecida nos séculos II e I antes de Cristo, com talvez vários pontos de origem, Oaxaca e o território mixezoque. Mas esse é o resultado de um longo processo, cujos antecedentes cabe aos especialistas descobrir.


SALLES, Catherine [dir.]. Larousse das civilizações antigas 3: das bacanais à Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 250.

Nenhum comentário:

Postar um comentário