Os condenados, Felix Nussbaum
A implantação do processo de aborto e esterilização permitiu que os médicos ficassem mais acostumados a intervir no corpo humano, mas nem por isso as mortes eram menos comuns. Depois de experimentos químicos e com o uso de raios X, os métodos abortivos foram aprimorados; criou-se, por exemplo, a injeção uterina, que diminuía os riscos de hemorragia e evitava outras complicações. Experiências dessa natureza eram feitas em mulheres judias e ciganas até que fossem devidamente testados os mecanismos de contracepção e de eugenia. [...]
Fileiras de cadáveres no campo de concentração de Nordhausende, Alemanha, 1945
Para uma visão de mundo que considera o diferente uma anomalia, não era difícil classificar o homossexual como culpado e dispensar-lhe o mesmo tratamento dado aos outros grupos perseguidos. [...] Em 1940, Himmler radicalizaria seu discurso: "É preciso abater esta peste pela morte". Os homossexuais eram obrigados a usar um triângulo rosa que os distinguia, classificava, isolava, estigmatizava, tornando-os presa fácil do racismo que crescia a cada dia.
Os eslavos, por sua vez, também eram vistos como subumanos pelos nazistas. Entre eles, os poloneses sofreram particularmente. As elites foram neutralizadas; a população, subjugada. Na verdade, durante todo o século XIX, a Polônia permaneceu dividida entre as grandes potências da região (Áustria, Rússia e Prússia), o que muito deve ter colaborado para a formação de um conceito depreciativo desse povo por parte dos nazistas. Provavelmente a fragilidade tão à mostra desse país muito contribuiu para que os nazistas, cujo pensamento considera as mudanças e os acasos da história como incompetência de sujeitos sociais incapazes de serem vencedores, formassem um conceito extremamente negativo dos poloneses. Hitler e seus seguidores tinham uma repulsa doentia pelo que consideravam fraqueza nas pessoas, grupos ou povos - "fraqueza" que, na realidade, é apenas sinal de vida. [...]
Os soviéticos sofriam duplo preconceito, por serem eslavos e por serem comunistas. Em relação a eles também o objetivo era a destruição completa. A invasão da União Soviética pela Alemanha, em junho de 1941, reforçou a arrogância dos alemães, e o massacre impetrado a civis e militares deu-lhes a ilusão de que o objetivo seria atingido. Entre 1941 e 1945, 60% dos 5 milhões e 700 mil prisioneiros de guerra soviéticos foram mortos pelos alemães. [...]
Os campos de concentração e extermínio, locais onde se eliminavam os que eram considerados dissonantes do todo homogêneo e coerente imaginado pelos nazistas, foram a materialização perfeita da visão de mundo totalitária. Ali a humanidade seria depurada, e a produção da morte em massa possibilitaria a emergência de uma nova raça, idêntica a si mesma, ou seja, mais "pura" e pronta para o domínio universal. Nos campos estava condensada a essência do regime nazista.
CAPELATO, Maria Helena; D'ALESSIO, Márcia Mansor. Nazismo: política, cultura e holocausto. São Paulo: Atual, 2004. p. 32, 92-95. (Coleção Discutindo a história)
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