"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A revolta dos Macabeus


Sob o reinado do rei Selêucida Antíoco IV (175-164 a.C.), surge na Judeia um movimento de helenização que procura dar fim à “marginalização” dos judeus, que aplicam estritamente sua lei, a Torá. Essa tentativa é realizada por dois grandes sacerdotes que acumulam autoridade religiosa e responsabilidades políticas. Nomeado sumo sacerdote em 175 a.C., Jasão promulga uma reforma fundando um ginásio em Jerusalém; visa talvez transformar a cidade em centro urbano grego, com o nome de Antióquia.

A pouca resistência que a reforma encontra, incita Menelau a depor Jasão em 172 a.C., para tomar seu lugar e promover um helenismo ainda mais radical, entregando-se ao mesmo tempo a uma verdadeira pilhagem dos recursos do Templo. Menelau provoca assim uma revolta popular, motivada por razões religiosas, mas também pela intensidade insuportável das cobranças fiscais. Em resposta aos motins e aos assassinatos que perturbam Jerusalém, Antíoco IV vem restabelecer a ordem de maneira brutal: suas tropas se entregam a verdadeiros massacres e o tesouro do templo é pilhado. Mais grave ainda, no outono de 168 a.C., o rei promulga um “édito de perseguição” que proíbe toda prática do judaísmo e institui cultos “pagãos” na Judeia: Zeus olímpico substitui assim Javé no templo de Jerusalém.

Uma parte do povo foge então de Jerusalém e encontra chefes militares na família dos Asmoneus, mais conhecidos com o nome de Macabeus (do hebraico maqqaba, “martelo”): sob a direção de Matatias, em seguida de seu filho Judas, ajudado por seus quatro irmãos, de 167 a 165 a.C., um exército de 6 mil a 10 mil homens multiplica os ataques contra as tropas selêucidas, mas também se voltam contra aqueles judeus que se submetem muito facilmente ao édito real. A guerra dos Macabeus termina com a tomada de Jerusalém e uma nova consagração do Templo, que é devolvido ao culto tradicional em dezembro de 165 a.C.

Os Macabeus não dispõem, contudo, de forças suficientes para expulsar definitivamente a guarnição da cidadela selêucida de Jerusalém. A morte de Antíoco IV lhes permite entabular negociações. Obtém a abolição do édito, de perseguição e a eliminação do sumo sacerdote Menelau, mas não podem impedir a nomeação de um novo sumo sacerdote filo-helênico. Um estado de guerra abafado se difunde então pelo país. Judas Macabeu desaparece em 160 a.C. e seu irmão Jônatas toma o comando das tropas dos Macabeus.

É somente em 152 a.C., favorecidos pela crise dinástica que opõe dois candidatos selêucidas, que os Macabeus finalmente triunfam: Jônatas é nomeado oficialmente sumo sacerdote e recebe uma série de garantias que conduzem praticamente à instauração de um Estado judaico independente. Mas é entre seus partidários que encontra novos adversários, porque sua família não é habilitada para exercer o pontificado. E, enquanto se instaura o Estado asmoneu, alguns dos mais rigorosos defensores da aplicação da Tora, os hassidim, se exilam voluntariamente para as margens do mar Morto e ali fundam a comunidade dos essênios.


SALLES, Catherine [dir.]. Larousse das civilizações antigas 3: das bacanais à Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 240.

Nenhum comentário:

Postar um comentário