Como a Cabanagem, outros movimentos fizeram inflamar o que o regente Feijó chamou de "o vulcão da anarquia". A Sabinada, a Balaiada e a Farroupilha, embora não tão intensas quanto a revolta dos cabanos, estavam marcadas pelo clima de violência social que caracterizou o período da regência. Aproveitando a brecha das lutas políticas no seio da classe dominante, o povo emergiu como força de contestação, passando a exigir melhores condições de vida. Em alguns momentos houve a participação de negros aquilombados, que desta forma protestavam contra a escravidão a que eram submetidos. Foi o que aconteceu na Balaiada, que não se pode dizer que tenha sido um único movimento. Caracterizou-se por sucessivas e ininterruptas rebeliões da população sertaneja e escrava do Maranhão, que se alastraram por toda a província, atingindo também o Piauí, no período de 1831 a 1841.
Na época, a província do Maranhão contava com cerca de 200.000 habitantes, sendo 90.000 escravos e o restante composto por sertanejos ligados à lavoura e à pecuária. Após a Guerra de Independência dos Estados Unidos, o principal produto maranhense, o algodão, sofreu grande declínio. O poder estava nas mãos dos proprietários rurais e e comerciantes das principais cidades e a população sertaneja foi a que mais sofreu com a crise por que passou o Maranhão e todo o país durante a regência.
"Será o caráter de sua participação no movimento - aliada à dos negros - que dará à Balaiada uma configuração especial dentre as mobilizações ocorridas no período. Se a rebeldia desses grupos já possibilitara sua participação como braço armado durante os conflitos da independência, na revolta dos balaios a participação dos negros e homens livres (sertanejos) adquire um caráter próprio, escapando ao controle das disputas partidárias." (MENDES JR., A. et al. Brasil - História, Texto e Consulta. São Paulo: Brasiliense, 1977. V. II, p. 235.)
Em determinado momento, sua luta ganha autonomia, fugindo ao âmbito das divergências entre as facções políticas locais, divergências estas que haviam provocado o movimento.
Chega mesmo a perder o apoio do grupo liberal Bem-te-vi, que editava um jornal com o mesmo nome - O Bem-te-vi - e que se opunha aos governistas.
Fabricantes de balaios
Lideravam o movimento o vaqueiro Raimundo Campos, o "Cara preta", Manuel dos Anjos Ferreira, o "Balaio" (daí o nome da revolta), e o negro Cosme, chefe de um quilombo. Em 1839, os balaios chegam a tomar a vila de Caxias, constituindo um Conselho Militar formado por alguns de seus chefes, que aceitaram a participação de elementos bem-te-vis. Pelas ruas da vila de Caxias os quilombolas do preto Cosme cantavam:
"O Balaio chegou!
O Balaio chegou!
Cadê branco!
Não há mais branco!
Não há mais sinhô!"
Estes, porém, foram os últimos momentos de comemoração e vitória para os balaios. Faltava ao movimento uma unidade. Cada grupo e cada chefe agiam isoladamente, havendo entre eles muitas divergências. As alianças com bem-te-vis e elementos moderados, que procuravam conter as revoltas, também contribuíram para o desgaste do movimento.
Em 1840, o coronel Luís Alves de Lima, futuro Barão de Caxias, é nomeado para a presidência e o comando de armas da província. Explorando o isolamento e as rivalidades entre os grupos rebeldes e contando mesmo com o apoio bem-te-vi, os legalistas derrotam os balaios. Quando, em 1841, é concedida a anistia aos envolvidos no movimento, a província está "pacificada".
ALENCAR, Chico et al. História da sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996. p. 144-146.
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