A literatura medieval foi escrita em latim e no vernáculo. Grande parte da literatura latina desse período consistiu em hinos e dramas retratando a vida de Cristo e dos santos. Em suas línguas nativas, os escritores medievais criaram diferentes formas de poesia: canções de gesta, romances e trovas, que surgiram no auge da Idade Média.
As canções de gesta francesas - poemas épicos de feitos heroicos narrados até então em forma oral - foram escritas no vernáculo do norte da França. Esses poemas tratavam das batalhas de Carlos Magno contra os muçulmanos, dos nobres rebeldes e da guerra feudal. O melhor desses poemas épicos, A canção de Rolando, expressava a fidelidade dos vassalos a seu senhor e a devoção do cristão à sua fé. Rolando, sobrinho de Carlos Magno, foi morto em batalha com os muçulmanos. A canção dos nibelungos, a melhor expressão do épico heroico na Alemanha, é com frequência chamada de "a Ilíada dos germanos". Como sua correspondente francesa, tratava de feitos heroicos.
O romance - uma fusão de velhas lendas, ideais cavaleirescos e conceitos cristãos - combinava amor com aventura, guerra e o maravilhoso. Entre os romances estavam as histórias do rei Artur e da Távola Redonda. Transmitidos oralmente durante séculos, esses contos difundiram-se das Ilhas Britânicas para a França e a Germânia. No século XII foram colocados em verso francês.
Outra forma de poesia medieval, que floresceu particularmente na Provença, no sul da frança, tratava da glorificação romântica das mulheres. Embora estas geralmente fossem consideradas pelos homens medievais como inferiores e subordinadas, a poesia do amor cortesão atribuía às damas nobres qualidades superiores de virtude. Para o fidalgo, a dama tornou-se uma deusa digna de toda a dedicação, fidelidade e culto. Ele a honrava e servia como fazia ao seu senhor; por seu amor, sujeitava-se a qualquer sacrifício.
Livro das horas de Hastings, século XV
As mulheres nobres tiveram influência ativa no ritual e na literatura do amor cortesão. Convidavam, com frequência, os poetas a suas cortes e também escreviam poemas. Exigiam que os cavaleiros as tratassem com gentileza e consideração, que se vestissem bem, se lavassem com frequência, tocassem instrumentos e escrevessem (ou pelo menos recitassem) poesias. Para mostrar-se digno do amor de sua dama, o cavaleiro tinha de demonstrar paciência, encanto, coragem e fidelidade. Acreditava-se que o cavaleiro, ao se dedicar a uma dama, enobrecia seu próprio caráter.
O amor cortesão não exigia uma relação marido-mulher, mas sim a admiração e o anseio de um nobre por outra mulher de sua classe. Entre os nobres, os casamentos eram arranjados por motivos políticos e econômicos. O ritual do amor cortesão, como dissemos, proporcionava um escoadouro para os sentimentos eróticos condenados pela Igreja. Também aumentava as habilidades e melhorava o gosto do nobre. O guerreiro sem refinamento adquiria espírito, boas maneiras, encanto e aprendia a usar as palavras. Transformava-se num cortesão e cavalheiro.
A maior figura literária da Idade Média foi Dante Aliguieri (1265-1321), de Florença. Dante apreciava os clássicos romanos e escreveu não só em latim, língua tradicional da vida intelectual, mas também em italiano, sua língua materna. Sob esse aspecto, foi precursor do Renascimento. Na tradição dos trovadores, Dante escreveu poemas à sua amada Beatriz.
Dante sintetizou, em A divina comédia, os vários elementos da perspectiva medieval e resumiu, com grande sentimento, a compreensão medieval da finalidade da vida. Escrita no exílio, A divina comédia descreve a viagem do poeta através do inferno, purgatório e paraíso. Dante divide o inferno em nove círculos concêntricos; em cada região, os pecadores são castigados de acordo com seus pecados na Terra. O poeta experimenta todos os tormentos do inferno - areias candentes, tempestades violentas, trevas e monstros terríveis que golpeiam, cravam garras, mordem e dilaceram os pecadores. O nono círculo, o mais baixo, é reservado a Lúcifer e aos traidores. Lúcifer tem três caras, cada uma delas de cor diferente, e duas asas como as de um morcego. Com suas bocas, vai mordendo os maiores traidores da história: Judas Iscariotes, que traiu Jesus, e Bruto e Cássio, que assassinaram Júlio César. Aos condenados ao inferno, é dito: "Deixai fora a esperança, ó vós que entrais". No purgatório, Dante encontra os pecadores que, embora sofram castigo, acabarão por entrar no paraíso. Aí, região de luz, música e delicadezas, o poeta, guiado por Beatriz, encontra os grandes santos e a Virgem Maria e, por um breve momento, tem a visão de Deus. Nessa indescritível experiência mística, o objetivo da vida é realizado.
Escritas em vernáculo, os Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer (c. 1340-1400), são uma obra-prima da literatura inglesa. Chaucer tomou como tema 29 peregrinos que iam de Londres ao santuário religioso de Cantuária. Ao descrevê-los, o autor mostrou humor, graça e compreensão da natureza humana, bem como uma excepcional percepção das atitudes inglesas. Poucos autores nos deram melhor retrato de sua época.
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 196-198.
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