Os estudos tradicionais de história referem-se, geralmente, à vida e às ações das elites sociais, focalizando apenas personagens que, por algum motivo, tiveram destaque: governantes, comandantes militares, grandes artistas ou cientistas, enfim, indivíduos que tiveram o reconhecimento dos seus contemporâneos. Trata-se da chamada história dos grandes homens.
Durante muito tempo, o próprio estudo da história confundiu-se com essa forma de abordagem. E ela não impregnou apenas a ciência. As obras de ficção, particularmente as da literatura e do cinema, têm como temas privilegiados a vida e as ações dos heróis.
Por essa razão, quando se estuda história tendo como referência a sociedade, no seu sentido mais amplo, isto é, como resultado da ação de todos os seres humanos, uma das grandes dificuldades é recuperar a vida e as ações dos homens comuns e, mais ainda, das mulheres comuns, dos jovens e das crianças.
No entanto, os chamados "grandes homens" são, por definição, aqueles indivíduos, homens ou mulheres, que, por ações praticadas ou por obras criadas, representam o conjunto da sociedade do seu tempo, sem o qual eles não existiriam.
Portanto, o conhecimento das sociedades humanas, mesmo daquelas que se apresentam como grande "civilização", só se torna completo quando se leva em conta a vida cotidiana, que é, por definição, o espaço da participação popular, da existência das pessoas comuns. É o espaço da rotina, da repetição, diferente do inusitado, da mudança, que, em geral, assinalam os chamados "grandes acontecimentos".
A colheita do feno, Pieter Bruegel
Mas a produção desse conhecimento requer um tipo de estudo complicado e complexo. Para realizá-lo, quase sempre, é preciso recuperar a participação popular por meio de registros documentais e vestígios materiais que foram produzidos por membros das elites, ou por sua ordem, e a elas se referem.
Atualmente, muitos historiadores e os demais interessados nos conhecimentos históricos têm voltado sua atenção para um aspecto por meio do qual se pode conhecer a vida das pessoas comuns: a história da vida privada.
O público e o privado compõem a história. Até muito recentemente, porém, apenas o primeiro elemento era considerado objeto dos estudos históricos. A chamada Nova História abriu espaço para a busca do segundo elemento e, assim, a construção de uma visão tão completa quanto possível da existência da humanidade.
NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 18-19.
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