Polemistas, tanto humanistas quanto religiosos, dispuseram, a partir do século XV, de uma nova vantagem: a imprensa. Surgiram na Europa pela primeira vez o tipo móvel de metal, tintas à base de óleo e melhores máquinas impressoras. O verdadeiro herói desta conquista foi o alemão Gutenberg, cujo empreendimento o deixou financeiramente arruinado. Mas a sua invenção teve um enorme efeito. Por exemplo, fez com que as edições de Erasmo, do Novo Testamento em grego, alcançassem mais pessoas mais depressa do que as obras de sábios do passado. Erasmo lhes oferecia um texto mais acurado do que os anteriores, e portanto melhor base para discussão do verdadeiro significado do Novo Testamento. É claro que não foram impressos imediatamente novos livros. Nos primeiros dias da imprensa, o livro mais impresso foi a Bíblia. As pessoas também queriam outras obras conhecidas de grandes teólogos ou legistas, famosos textos de autores antigos, e não novidades. Contudo, a existência da máquina impressora se mostraria de grande importância na circulação de novas ideias - especialmente científicas - entre o pequeno número de pessoas com interesses específicos.
Bíblia de Gutenberg (detalhe)
A imprensa contribuiu para tornar a Europa uma sociedade muito mais culta. Embora grande parte dos europeus não soubesse ler, nem mesmo em 1800, era muito mais comum, à época, que os mais ricos pudessem fazê-lo do que trezentos anos antes. Além disto, muitas vezes os que não sabiam ler conseguiam alguém para ler os livros em voz alta, e o que ouviam era escrito em vernáculo. Os homens cultos continuaram por muito tempo seguindo a prática de escrever em latim, a língua internacional da sabedoria. Porém cada vez mais livros eram publicados em inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e outras línguas europeias e, como a invenção da escrita nos tempos primitivos ajudara de certo modo a "fixar" a linguagem, a imprensa padronizou a grafia e o vocabulário em áreas muito mais amplas, antes diferenciadas por dialetos e idiomas locais. Essas mudanças conseguiram impulso quando a impressão começou a ser usada para outras coisas além de livros. Volantes, ilustrações impressas com explicações, boletins, panfletos e finalmente o verdadeiro jornal ou a revista periódica, tudo isso surgiu antes de 1800. Tais publicações não tiveram a mesma forma em todos os lugares. Os ingleses elaboraram panfletos políticos no século XVII (um dos mais famosos foi a Areopagítica, de Milton, importante libelo em favor da liberdade de imprensa), enquanto na França (devido à censura) eles demoraram mais cem anos e forma menos numerosos. Os jornais foram publicados na Alemanha a partir do século XVII. Porém, em 1800, havia muito mais material impresso por toda parte do que três séculos antes, e é provável que nesta época a discussão pública de ideias e acontecimentos fosse mais frequente do que nunca, a despeito da qualidade.
Perto do final do século XVIII, aumentaram as demandas por maior liberdade de imprensa e de publicação, em outros países além da Inglaterra, como a república holandesa e as colônias inglesas da América. Um famoso escritor francês declarou que embora discordasse violentamente do que alguém dizia, lutaria com vigor pelo direito de a pessoa se expressar. Na época, uma declaração assim significava que deveria haver um direito legal de imprimir e publicar opiniões. Por isso lutaram em muitos países os liberais do século XIX, e novamente no século XX, quando se pensou que a batalha estava ganha.
Por volta de 1700, a imprensa já ajudara a criar um público internacional de homens cultos. As descobertas e observações científicas seriam publicadas nas "atas" da Royal Society da Inglaterra, ou de academias reais em outros lugares. [...]
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 486-488,
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