Em 1900, a maior parte dos judeus vivia nas regiões central e leste da Europa, especialmente na Rússia e no Império Austro-Húngaro, sendo porém minoria até mesmo nesses lugares. Muitos se vestiam de maneira característica e o dia de veneração deles era preferencialmente o sábado, não o domingo. Em uma época de nacionalismos, eram diferentes e costumavam ver-se assim.
Na Europa como um todo, não havia outra minoria étnica de tanto sucesso nas universidades, na Música, na Literatura, na Medicina, no Direito e nos negócios. Na Alemanha, para onde migravam de regiões mais ao leste, eram especialmente bem-sucedidos. Lá, o antissemitismo era menos notável. Os judeus alemães permaneciam como uma minoria bastante reduzida - menos de 1 milhão - e eram atuantes na vida nacional. Haviam servido nas forças armadas durante a Primeira Guerra Mundial, contribuíram para boas causas e esforçavam-se para ser assimilados pela maioria.
Hitler atacou os judeus em seu livro Mein Kampf, mas entre suas inúmeras frases de ódio não havia nenhuma ordem precisa para que fossem exterminados. De fato, os judeus que viviam na Alemanha provavelmente se sentiam seguros no mês em que Hitler alcançou o poder, pois controlavam ou administravam muitas instituições importantes. Uma grande parte de três influentes jornais alemães pertencia a judeus. O clube de futebol FC Bayern, campeão de 1932, depositou sua confiança em um técnico e um presidente judeus. Mas nos seis anos seguintes, à medida que as políticas e os discursos do governo se tornavam cada vez mais antissemitas, a maioria dos judeus deixou a Alemanha, abandonando seus bens. Muitos alemães permaneceram solidários a eles e tal solidariedade foi denunciada nos folhetos nazistas impressos no ano de 1938. Nessa época, os decretos de Hitler contra os judeus já estavam plenamente ativos.
De acordo com tais decretos, os judeus não eram mais considerados cidadãos alemães e até os passaportes deles foram carimbados com um J. Não tinham permissão para casar com mulheres ou homens nascidos na Alemanha. Às vésperas da guerra, não podiam possuir automóveis nem exercer suas profissões, tampouco ir ao cinema ou a outros lugares de entretenimento público.
Os ataques a judeus na Alemanha eram imitados na Itália, embora em menor escala. Lá, eles eram poucos, mas influentes nas universidades e em algumas profissões. Em novembro de 1938, Mussolini decretou que estavam impedidos de participar do serviço público e das forças armadas, praticamente tolhendo seu direito aos estudos e ao exercício do magistério, além de proibir que se casassem com não judeus. Como concessão, decretou que as viúvas e os filhos de judeus mortos em combate pela Itália estavam dispensados de cumprir as leis antissemitas - benefício que se aplicava também aos judeus que figuravam entre os fundadores do Partido Fascista.
Ciganos recém-chegados no campo de extermínio de Bełżec,
1940.
Os ciganos também se tornaram alvo de Hitler, mas não de Mussolini. A Índia era a antiga pátria desse povo. Assim como os judeus, os ciganos tinham um forte senso de família e tradição e, vagando pela Alemanha com seus cavalos e suas pequenas carroças, recusavam-se a observar os costumes que uma sociedade convencional exigia. Enquanto os judeus geralmente eram temidos por serem muito trabalhadores e bem-sucedidos, os ciganos eram desprezados por serem menos laboriosos e viverem absortos nos próprios costumes e valores. Sua sina, comparada à dos judeus, foi objeto de pouca discussão. Um povo parcialmente nômade não costuma construir memoriais nem museus e desperta menos interesse político.
A Segunda Guerra Mundial - e não os manifestos raciais que a precederam - expôs seriamente judeus e ciganos. Por volta de 1939, a liberdade e o patrimônio deles estavam em situação de risco. Três anos mais tarde, era a vida deles que corria perigo.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 131-133.
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