Essa grandeza, o desabrochar durante séculos de uma civilização excepcional por sua arte e qualidade de vida, a prosperidade da ilha evocada por Homero - "Bela, rica, bem-irrigada, ela possui homens em número infinito e noventa cidades" -, o poder de sua marinha, que põe termo às piratarias no mar Egeu, a difusão e o prestígio de seus produtos, tudo isso está na origem da lenda de Minos. Filho de Zeus Astério, simbolizado por um touro, e da bela Europa, Minos foi o sábio soberano a quem seu pai ditava, numa gruta do monte Iouktas, leis admiráveis. Outras personalidades lendárias o cercam, a maioria com um significado religioso: Pasifaeia, sua esposa, o Minotauro, Ariadne e Fedra, seus filhos, Radamanto, seu irmão, que se torna juiz dos Infernos com Éaco e o próprio Minos. Culto, amante das coisas belas, Minos atraía para perto e si artistas, como o universal Dédalo, autor do Labirinto e da vaca de bronze onde Pasifaeia, loucamente apaixonada por um touro divino, concebeu o monstruoso Minotauro, Dédalo cuja evasão trágica com o filho Ícaro arrastou Minos, em sua furiosa perseguição, até a Sicília, onde morreu depois de ter fundado um reino.
Minotauro. Cerâmica grega. Ca. 515 a.C.
Foto: Marie-Lan Nguyen
Lenda, é verdade, mas baseada parcialmente em fatos reais. Havia, ainda na época clássica, cidades e feitorias chamadas Minoa em quase toda a costa do Mediterrâneo oriental. O que as escavações de Cnossos e dos outros sítios cretenses nos informam sobre o rei-sacerdote, sobre o importante papel do touro na religião e na simbólica, sobre a planta complicada, a rede de salas e corredores do palácio (donde o mito do Labirinto) corresponde a muitos traços dessa lenda. As principais ressalvas a fazer dizem respeito à cronologia: os atenienses consideravam Minos contemporâneo de Teseu (século XIII), Heródoto remonta-o ao século XIV, mas é provável que os antigos tenham simbolizado num personagem único toda a série de soberanos que fizeram no segundo milênio a grandeza de Creta e que tinham provavelmente o nome de Minos, seja como título, seja como nome dinástico, conservado de pai para filho.
GABRIEL-LEROUX, J. As primeiras civilizações do Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 39-40.
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