As diferenças nas maneiras tradicionais de se fazer as coisas demonstram que algumas comunidades humanas se tornaram muito diferenciadas já no final dos tempos pré-históricos. O burilar das próprias tradições começou em tempos muito remotos, no Período Paleolítico. Mas as diferenças ficaram muito mais agudas com o assentamento que, é claro, era outro resultado do advento da agricultura. Bem acima do vale de um dos tributários do Tigre, nas colinas do Curdistão, havia, por volta de 6500 a.C., uma pequena aldeia, num lugar chamado Jarmo. O seu povo ainda não sabia como queimar cerâmica, mas já possuía casas de argila, às vezes com alicerces de pedra, e com mais de um aposento. Algumas de suas habitações possuíam mobília construída, como fornos e bacias no chão. Os habitantes podiam cortar e moer tigelas de pedra macia, que também servia para fabricar ornamentos, como contas e braceletes. Praticavam a agricultura e possuíam animais domésticos, como carneiros, cabras, bois, porcos e, é claro, cães. Já em Jarmo uma pequena riqueza distinguia algumas pessoas de outras: os possuidores de ornamentos ou armas valiosos. Nesse local havia um papel para os especialistas. Os seus negócios precisavam ser regulamentados e a colheita e a armazenagem precisavam ser fiscalizadas. No entanto Jarmo provavelmente continha apenas umas poucas centenas de pessoas. Bem a Oeste, na Palestina, Jericó provavelmente possuía três mil habitantes nesta época. Um grupo tão grande, sem falar nos problemas de administrar e manter o controle de um importante oásis, teria produzido habilidades especializadas e um governo ordenado era mais necessário do que em Jarmo. Então, uma das coisas que estavam acontecendo, pelo menos no Oriente Próximo durante o Período Neolítico, era que grupos maiores estavam se desenvolvendo, aos quais as pessoas deviam lealdade e obediência. A vida humana já percorrera um longo caminho desde as tribos nômades até a organização da vida social humana em unidades territoriais estabelecidas sob as mesmas leis, uma forma de governar com que estamos familiarizados até hoje.
Stonehenge, John Constable
A maneira pela qual homens e mulheres viam seus papéis nestas sociedades primitivas ainda é desconhecida para nós, mas deve estar enraizada nos fatos biológicos e econômicos [...]. Como as crianças - futuro da tribo - exigiam cuidados mais prolongados, a divisão do trabalho entre os sexos, os homens saindo para caçar e coletar alimentos enquanto as mulheres ficavam em casa, provavelmente estava bem estabelecida antes que que as comunidades se tornassem mais assentadas. Nessa divisão cresceriam as diferentes tradições de educação, os meninos saindo com os homens quando cresciam, para serem capazes de acompanhar (ou pelo menos não perturbar) a caça, enquanto as mulheres podem ter aprendido a observar cuidadosamente a vida das plantas disponíveis no assentamento, para reunir plantações especialmente úteis e nutritivas. Talvez em muitos lugares elas já fornecessem a principal força de trabalho para a agricultura [...].
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Algumas partes do mundo, por volta de 5000 a.C., já estavam bem dentro do Período Neolítico; a vida humana, então, já era bem diversificada e complexa. Era bastante diferente da vida do Homo erectus, que, com todos os seus grandes avanços, ainda era muito igual por toda parte. No entanto, o Homo erectus tivera uma vida muito diferente dos pobres e vulneráveis espécimes do Australopithecus que se agachavam nos lagos e enchiam o que hoje é chamado de Desfiladeiro de Olduvai há dois milhões de anos, munidos de meios de sobrevivência pouco melhores do que os animais que vagueavam pelas redondezas e com quem compartilhavam o suprimento de comida.
No Período Neolítico estamos num mundo cheio de variedade e potencial humano. Esta variedade iria aumentar. Algumas comunidades humanas progrediram rapidamente, mas outras não. Novas forças operariam no desenvolvimento humano à medida que diferentes povos entraram em contato e aprenderam uns com os outros, ou refletiram sobre a sua própria experiência e mergulharam em novos experimentos. [...]
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[...] Uma das poucas e boas descrições do Homo sapiens é que ele é acima de tudo um animal capaz de fazer mudanças. A evidência disso aparece no que ele fez: a sua História. [...]
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 66-69 e 71.
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