A Holanda (denominação usualmente dada às Províncias Unidas dos Países Baixos), muito antes de se tornar independente, constituía uma das regiões mais florescentes da Europa.
The Y at Amsterdam , seen from the Mosselsteiger
(mussel pier), Ludolf Bachuizen
Sua agricultura, apesar da escassez de terras, progredia. Suas indústrias desenvolviam-se, principalmente, na produção de tecidos de linho, estofos de lã, tapeçarias, construção naval, peixe salgado etc. O comércio, beneficiado com as vitórias sobre a Hansa Teutônica e pelos progressos da marinha, expandiu-se rapidamente, aproveitando-se das rotas fluviais (o Escalda, o Reno e o Mosa ligavam a região com a França e com o Sacro Império Romano-Germânico) e marítimas. Aspecto importante, na atividade mercantil, era sua intensidade com o porto de Lisboa, de onde transportavam produtos vindos do Brasil, da África e da Ásia. A propósito, a Hansa Teutônica foi uma associação de cidades alemãs; formada no século XIII sob a liderança de Lubeck, até o século XV dominou o comércio marítimo da Europa Setentrional; seu declínio deveu-se ao deslocamento do eixo econômico para o oceano Atlântico, consequência da Expansão Marítima e Comercial.
Com as rápidas transformações econômicas do século XVI, a sociedade assistiu ao fortalecimento de rica e ativa burguesia, sobretudo nos centros urbanos setentrionais dos Países Baixos, onde o calvinismo converteu-se na religião predominante.
Politicamente, os Países Baixos integravam-se ao Império Espanhol; cada uma das dezessete províncias dispunha de um conselho e de um governador (Estatúder) e enviava representantes aos Estados Gerais. As instituições comuns e a autonomia desfrutada, ao longo do governo de Carlos V, acabaram de forjar o sentimento nacional.
A ascensão de Felipe II ao trono espanhol marcou uma brusca mudança política em relação aos Países Baixos, ocorrendo crescentes choques contra a intolerância religiosa, manifestada pela introdução da Inquisição; a opressão fiscal, mediante a criação de novos impostos e elevação dos já existentes; regulamentação econômica promulgada em moldes mercantilistas e disposições administrativas suprimindo a autonomia existente.
A revolta conduziu à divisão dos Países Baixos: o Sul permaneceu unido à Espanha pela União de Arrás, enquanto os burgueses calvinistas do Norte formavam a União de Utrecht (1579), contando com a ajuda da Inglaterra de Elisabete I.
Apesar de a Espanha só haver reconhecido, diplomaticamente, a independência das Províncias Unidas mediante o Tratado de Vestfália (1648), estas já se haviam organizado em uma república federal, burguesa e calvinista.
"Os holandeses aproveitaram-se de várias circunstâncias favoráveis: sua localização em frente ao Mar do Norte; a ruína de Antuérpia; o declínio dos portos hanseáticos; e, sobretudo, a decadência de Portugal, que, então, estava anexado à Espanha." (ARONDEL, M.; LE GOFF, J. Du Moyen Âge aux Temps Moderns (1328-1715). Paris: Bordas, 1968. (Collection d'Histoire).
Ainda no decorrer da luta contra Felipe II, a Holanda procurou conquistar colônias aos luso-espanhóis )de 1580 a 1640 houve a União Ibérica), daí os ataques aos domínios ultramarinos daqueles países visando a efetuar pilhagens (foi, por exemplo, o caso das diversas incursões ao litoral brasileiro) e, principalmente, o estabelecimento definitivo. Na América, os holandeses se apoderaram da Guiana, da ilha de Curaçao, diversos pontos da América do Norte, tendo dominado o litoral norte e nordeste do Brasil durante algum tempo. Na África, estabeleceram-se na Colônia do Cabo e, temporariamente, em Angola, Benguela, São Tomé etc. No Oriente, criaram feitorias na Índia e dominaram Java, Ceilão, Málaca, Célebes, Molucas (as ilhas das especiarias), Nova Guiné, Sonda e Timor.
Para o processamento dessa intensa atividade, os holandeses construíram numerosas embarcações, formando a primeira frota naval do mundo.
Graças a tudo isso, Amsterdã, com suas feiras, sua Bolsa, seu banco, companhias de comércio (das Índias Ocidentais, das Índias Orientais), converteu-se no principal centro comercial e financeiro da Europa durante a primeira metade do século XVII.
Embora a ascensão hegemônica fosse rápida e se mantivesse na primeira metade do século XVII, o declínio se precipitou na segunda metade do mesmo século, quando guerras desastrosas, contra a Inglaterra (1652-1654 e 1655-1667) e contra a França (1672-1678), arruinaram o país e reduziram sua participação no comércio mundial.
Aos fatores externos somaram-se os de ordem interna, que apresentaram características distintas daquelas ocorridas nos Países Ibéricos. Com efeito, os holandeses foram incapazes de passar do capital comercial para o capital industrial: as excelentes possibilidades de lucro oferecidas pelas transações mercantis desviaram capitais de outras atividades, como a indústria, que estagnou e declinou; as perdas sofridas, externamente, acabaram dissipando a maior parte do capital de giro acumulado.
AQUINO, Rubim Santos Leão de et alli. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. p. 39-42.
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