As atitudes de compreensão da natureza como força a ser controlada e explorada pela civilização cruzaram com a expansão do imperialismo no século XIX. Essa noção filosófica de conquista da natureza progressivamente tornou-se o modelo e o padrão para sociedades não ocidentais, e sua aceitação global levou a humanidade até a porta do desastre ecológico, no final do século XX. O imperialismo ecológico entrelaçou-se aos objetivos políticos das potências coloniais. Por exemplo, a Índia Britânica explorou e destruiu florestas do oeste do Himalaia entre 1815 e 1914, enquanto construía o serviço de administração de madeireiras mais sofisticado do mundo colonial. A colonização da natureza era vista como tão inevitável quanto a subjugação de povos pelos poderes coloniais.
Europeus consideravam jardins cultivados e cercados como as paisagens mais atraentes e idílicas durante o século XIX, um tipo de colonização da natureza. O legado da imagem dessa colonização é encontrado nos parques nacionais do mundo: do Quênia até Gana e até Yosemite, paisagens naturais protegidas tornaram-se necessárias para preservar ao menos alguma lembrança da natureza e da vida selvagem que quase foi perdida na turbulência do imperialismo no século XIX e começo do século XX. Oficiais coloniais e outros europeus coletaram plantas e animais de todo o mundo para criar jardins botânicos e parques zoológicos, bem como para explorá-los mascarados pelo valioso conhecimento e por produtos comercializáveis. Por meio do que alguns estudiosos chamaram de "bioprospecção", os encontros globais de colonizadores com novos ambientes ameaçou aqueles que não tinham poder. Por exemplo, tanto os escravos africanos quanto os ameríndios utilizavam abortivos e outras plantas para controlar a fertilidade feminina e resistir à opressão, mas o conhecimento dessas plantas nunca foi transferido à Europa, possivelmente como consequência do empreendimento colonial ter sido dominado por homens. Hoje, corporações multinacionais rivalizam pelo controle do copyright sobre novas espécies de plantas altamente produtivas.
Casa Miwok, Parque Nacional de Yosemite, Estados Unidos. Foto: Urban
Da Tailândia à Amazônia, da África Equatorial até o nordeste do Pacífico nos Estados Unidos e no Canadá, a exploração de florestas modificou as paisagens globais drasticamente e impingiu padrões centenários de uso de recursos e de terras. O estudo científico auxiliou a habilidade das sociedades de aprofundar a compreensão e a exploração do mundo natural. A tendência global em relação ao desmatamento não era tanto uma resposta às pressões do aumento populacional quanto era a consequência das forças mundiais de mercado, geradas pelas demandas globais por mercadorias e matérias-primas. Em particular, os mercados das nações industrializadas demandaram madeira para construção, impressão de jornais e outros produtos de papel. Produto da colaboração entre nações ricas e menos desenvolvidas, o desflorestamento tornou muitas populações rurais mais dependentes das necessidades do mercado internacional e do controle externo. A ironia é que em várias partes do mundo, à medida que a informação científica sobre os sistemas de florestas do mundo ia aumentado, as florestas, progressivamente exploradas, desapareceram. Ao final do século XX, um total estimado em 20,4 milhões de hectares de florestas tropicais estava sendo perdido anualmente. Muito devido ao desmatamento, aproximadamente 1,4% dos biomas mundiais contém praticamente a metade da biodiversidade do planeta, tornando a perda futura de florestas ainda mais crítica.
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 59.
Nenhum comentário:
Postar um comentário