A sociedade era constituída de homens livres, servos e escravos, Entre os livres se incluíam nobres, clérigos, soldados profissionais, mercadores, artesãos e alguns camponeses. Os servos cultivavam um pedaço de terra da propriedade de um senhor, que lhes dava um arrendamento vitalício e proteção militar. Podia ser expulso à vontade do dono e, ao morrer, a terra só passaria aos filhos com o consentimento do senhor. A pessoa que doava o feudo era um senhor ou suserano, e quem recebia era um vassalo, quer fosse cavaleiro, duque ou conde.
Detalhe do vitral da Catedral Notre-Dame de Chartres: um ferreiro a aplicar a ferradura num cavalo.
Geralmente o rei era o mais importante dos suseranos. Logo abaixo dele estavam os grandes nobres, duques e condes, que podiam dividir e conceder feudos a nobres inferiores, chamados viscondes e barões, que lhes ficavam devendo vassalagem. Alguns servos denominavam-se vilões: eram pequenos fazendeiros que haviam dado suas terras a um vizinho poderoso. Os vilões não estavam ligados ao solo, enquanto que os servos estavam presos a ele e eram vendidos juntamente com a terra a que se ligavam. Os pastores e lavradores eram sempre extremamente pobres. Viviam em míseras cabanas, alugavam-se aos vilões ricos ou faziam trabalhos extraordinários para o senhor feudal.
Fevereiro. As mui ricas horas do Duque de Berry, 1412-1416, Irmãos Limbourg.
Vilões e servos estavam presos a numerosas obrigações. Pagavam anualmente vários impostos em dinheiro ou em espécie: a) a capitação, imposto cobrado por pessoa; b) o censo, pago somente por vilões e homens livres; c) a talha, percentagem sobre o que se produzia nas terras dos vilões e dos servos; d) as banalidades, retribuição paga pelo uso do moinho da vila, tonéis de vinho, forno de pão, etc.
Uma obrigação importante era a corvée. Esta obrigação recaía somente em um homem de cada família e era uma herança de economia mais antiga, na qual as tarefas como abrir estradas e canais, drenar pântanos, eram realizadas pelos camponeses como uma obrigação para com a comunidade ou o rei. Alguns senhores exigiam três dias por semana na maior parte do ano e quatro ou cinco dias por semana na época de aração ou colheita.
Além das taxas menores e um sistema de multas, o servo era ainda obrigado a hospedar gratuitamente o seu senhor. As obrigações eram tão pesadas que dois terços do que o servo produzia não lhe pertenciam. Sua vida era dura, as condições higiênicas péssimas e a alimentação pobre e grosseira. Tinha seus momentos de humor rude e pesado, mas no campo e em casa era homem de poucas palavras e espírito grotescamente solene. Junto ao seu casebre de madeira, de piso de terra batida, ficava a estrumeira que reunia os detritos humanos e dos animais. Em volta havia alguns instrumentos agrícolas e de indústria doméstica.
Servos medievais trabalhando na colheita. Iluminura do Espelho das virgens (século XIII), destinado às freiras noviças.
Não é de admirar que, no anedotário da época, se contasse que o diabo havia excluído os servos por não lhes aguentar o cheiro. Supersticioso, era contudo realista. Conhecia os caprichos impiedosos da natureza e sabia que uma estação seca podia causar-lhe a morte pela fome. As epidemias e a fome foram-lhe sempre companheiras, como haviam sido de seus ancestrais.
A cavalaria. Uma vez que, na maioria dos casos, os invasores bárbaros apareciam montados, exigia-se na Europa defensores que pudessem dispor de cavalos. A cavalaria tornou-se consequentemente mais importante do que a infantaria. Mas a cavalaria não era apenas uma organização militar - era uma instituição.
Geralmente, o cavaleiro era uma pessoa de origem aristocrática. Os jovens que aspiravam à cavalaria submetiam-se a uma longa e árdua disciplina. Pertencentes por nascimento a uma classe belicosa, recebiam educação essencialmente militar. Aos 7 ou 8 anos o futuro cavaleiro servia como pajém, aprendendo nos castelos as boas maneiras. Aos 12 ou 14 anos passava a escudeiro, a serviço de um senhor, carregando-lhe o escudo, servindo-o à mesa e aprendendo por imitação e experiência a lidar com as armas de guerra. Quando terminava sua aprendizagem ou praticava um ato extraordinário de bravura, era recebido na ordem da cavalaria com um ritual solene. Nas vésperas da cerimônia, jejuava e tomava um banho como símbolo de purificação. Passava a noite na igreja, em prece, e no dia seguinte, depois de ouvir missa e comungar, logo após um sermão sobre seus deveres morais, sociais, religiosos e militares, era armado cavaleiro. O título era concedido pelo senhor, que lhe dava três pequenas pancadas no ombro ou na cabeça com a espada, e às vezes um soco, como símbolo da última afronta que podia aceitar sem desagravo. O novo cavaleiro recebia uma lança, um capacete e um cavalo, distribuía presentes e dava uma festa aos amigos.
Um cavaleiro de Prato (Toscana). Miniatura do século XV, Convenevole da Prato (Carmina regia).
Teoricamente o cavaleiro tinha que ser um herói e um santo. A Igreja, para dominar-lhe o ânimo selvagem, cercou a instituição com votos religiosos. O cavaleiro comprometia-se a falar sempre a verdade, a defender a Igreja e a perseguir os infiéis.
A cavalaria elevou consideravelmente a posição da mulher. Nos romances medievais o cavaleiro está sempre comprometido ao devoir ou serviço da senhora que lhe deu suas cores para usar.
As normas cavalheirescas expressaram, assim, uma aspiração, um ideal, e, se bem que não tenham na prática abolido os abusos dos poderosos e as violências, exerceram sensível influência benéfica sobre os costumes feudais.
A terra e as classes rurais. O senhor feudal podia possuir mais de um feudo. Em troca dos serviços dos servos, dava-lhes terras de arrendamento vitalício. Exercia poderes judiciais e militares sobre seu domínio. Além da administração do feudo, suas preocupações principais eram a caça e ocasionalmente a guerra. Hospedava frequentemente a trocava prodigamente presentes com seus hóspedes.
O interior da residência senhorial era escuro e fechado. Até os fins do século XI os castelos feudais eram de madeira. Posteriormente, pesadas construções de pedra substituíram as antigas habitações, mas não apresentavam muito conforto. As janelas eram pequenas e poucas; a luz artificial era fornecida por candeeiros e tochas. Escadas sinuosas ligavam os andares, em número de três. No segundo pavimento ficava o salão principal que servia de corte de justiça, sala de jantar e quarto de dormir para a maior parte da família. O soalho de pedra era coberto por esteiras de junco ou palha.
As guerras constantes em que se envolviam os nobres por motivos fúteis ou interesses inconfessáveis, provocaram tanta violência, que a Igreja interveio com a Paz de Deus (1041), proibindo, sob pena de excomunhão, a luta em certos dias da semana, geralmente de quinta feira a segunda feira seguinte.
Walther von Klingen (detalhe). Codex Manesse, ca.1305-1315.
Com a 1ª Cruzada os nobres adotaram a prática islamítica de fazerem suas roupas, estandartes e armaduras com desenhos heráldicos, sendo interessante notar que no século XII estes emblemas heráldicos foram usados também por abadias, cidades e nações.
SOUTO MAIOR, Armando. História geral. São Paulo: Nacional, 1979. p. 241-244.
Nenhum comentário:
Postar um comentário