๏๔ Mito dos Kaingang do Paraná ๔๏
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Nossos antepassados alimentavam-se de frutas e mel. Quando estes faltavam, sofriam de fome. Um velho de cabelos brancos, de nome Nór, ficou com dó deles.
Um dia disse a seus filhos e genros que com cacetes fizessem uma roçada nos taquarais e a queimassem. Feito isso, disse aos filhos que o conduzissem ao meio do terreno roçado.
Ali se sentou e disse aos filhos e genros:
- Tragam cipós grossos.
Quando trouxeram, disse-lhes o velho:
- Agora vocês amarrem os cipós no meu pescoço e arrastem-me pela roça em todas as direções. Quando estiver morto, enterrem-me no centro dela e vão para o mato durante três luas. Quando voltarem, passado esse tempo, acharão a roça coberta de frutos, que, plantados todos os anos, livrarão vocês da fome.
Eles principiaram a chorar, dizendo que tal não fariam. Mas o velho disse:
- O que ordeno é para o bem de vocês. Se não fizerem o que mando, viverão sofrendo e muitos morrerão de fome. E, além disso, já estou velho e cansado de viver.
Então, com muito choro e gritos, fizeram o que o velho lhes mandara e foram para o mato comer frutas.
Passadas as três luas, voltaram e encontraram a roça coberta de uma planta com espigas, que é o milho, além do feijão grande e da moranga. Quando a roça ficou madura, chamaram todos os parentes e repartiram com eles as sementes.
É por isso que temos o costume de plantar nossas roças e depois comer frutas e caçar por três ou quatro luas.
O milho é nosso, aqui da nossa terra. Não foram os brancos que o trouxeram da terra deles. Demos ao milho o nome de nór, em lembrança do velho que tinha esse nome e, com seu sacrifício, o produziu.
GUARANI, Emerson; PREZIA, Benedito. A criação do mundo e outras belas histórias indígenas. São Paulo: Formato Editorial, 2011. p. 35.
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