"A Grécia civilizada fez do seu corpo exposto um objeto
de admiração. Para o antigo habitante de Atenas, o ato de exibir-se confirmava
a sua dignidade de cidadão. A democracia ateniense dava à liberdade de
pensamento a mesma ênfase atribuída à nudez. O desnudamento coletivo a que se
impunham - algo que hoje poderíamos chamar de 'compromisso másculo' - reforçava
os laços de cidadania." SENNET, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade
na civilização ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1997. p. 30.
O corpo humano era um dos temas de predileção da arte grega.
O corpo masculino era geralmente representado nu. Já o corpo feminino, que
conheceu algumas figurações nuas de influência oriental (como os marfins do
século VIII a.C.), só foi retratado nu no século IV a.C. e na época
helenística. Antes disso, já tinha sido representado com sugestivas vestes
molhadas (como Calímaco, monumento das Nereidas) ou semiencoberta.
O nu, geralmente um corpo jovem, apareceu na época arcaica e
no começo da época clássica. Durante a época clássica, nota-se uma tendência ao
rejuvenescimento de alguns deuses (Apolo, Dioniso, Hermes) e a tendência a uma
sutileza nas formas, certa androginia nas estátuas de hermafroditas.
Inversamente, os nus femininos representados nos vasos tinham, no século V
a.C., uma morfologia principalmente masculina, talvez pelo desconhecimento do
corpo feminino, que não se mostrava em público, ao contrário do masculino.
A pintura de vasos também era uma fonte importante para a
representação do corpo. Alguns dos vasos usados nos banquetes eram decorados
com cenas de relações sexuais diversas, que podiam ser divididas em dois
grupos: cenas elegantes, com trocas de olhares, e cenas cruas, nas quais se
expressava uma relação de dominação entre um homem pertencente ao mundo dos
senhores e um ser de estatuto servil, apresentado como simples objeto
funcional. (Anne Jacquemin, professora da Universidade Marc Bloch, Estrasburgo)
In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume]
1: antiguidade. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 17-19.
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