A aprendizagem da etiqueta da corte, do savoir-faire mais
refinado, o aperfeiçoamento nos domínios da música, da dança, da poesia
lapidavam aquela que até então tinha apenas a beleza como atributo. Sua
formação era contínua, assegurada pelo pessoal feminino do harém. Cada jovem
era encaminhada a um serviço particular pelo mordomo do harém - servir à mesa,
cuidar da roupa branca ou dos banhos - e recebia por aquela tarefa um salário
diário. Ali se decidia o seu destino. Ao ter um desempenho superior em sua
função, a mais bela, a mais inteligente, a mais hábil conseguia fazer-se notar.
Assim nasciam rivalidades que formavam o pano de fundo da vida cotidiana do
serralho.
A mais estrita hierarquia reinava entre as escravas. O
escalão mais baixo era ocupado pelas cariye (pronuncia-se djanê), as
iniciantes, das quais algumas poderiam vir a atrair a atenção do sultão. Nesse
caso, eram chamadas de gözde (literalmente, "no olho"), companhias
passageiras. O senhor conservava entre elas aquelas que dominavam as mais
refinadas artes da atração - e as artes eróticas não eram as menos importantes.
Essas damas de companhia que o vestiam, o banhavam, serviam
suas refeições e seu café, cuidavam de suas vestimentas, entre outras atribuições,
eram chamadas de odalik - as famosas odaliscas -, termo vindo de oda, que
significa "para o quarto".
A fortuna começava a sorrir àquelas que partilhavam mais
regularmente a cama do sultão. Essas ikbâl, ou concubinas, dispunham no palácio
de apartamentos privados e de servidores. A atribuição de um número de ordem
(favorita nº 1, nº 2...) as hierarquizava. Mas todos os favores recaíam sobre
aquela que dava à luz um filho. Ela tornava-se cadine (mulher nobre) e obtinha
o status de esposa. O número dessas privilegiadas oscilava entre quatro e oito,
a mais honrada sendo aquela que havia gerado o primeiro filho do sultão.
Suntuosos aposentos lhe eram atribuídos, bem como rendimentos substanciais que
lhe permitiam financiar hospitais, mesquitas, fontes ou banhos públicos em
Istambul ou nas províncias.
Os efetivos femininos do harém variaram ao infinito, segundo
a época e os desejos de cada senhor. Quase 200 no tempo de Solimão, o
Magnífico, mais de 900 em meados do século XVII, entre 400 e 800 no século
seguinte, 809 em 1870. Por ocasião da morte de um sultão, suas favoritas em
geral eram encaminhadas ao Velho Palácio, situado no centro da capital, um
"palácio das lágrimas", onde as mais idosas e as que haviam caído em
desgraça definhavam aos poucos. No entanto, o costume permitia a algumas
contrair novas núpcias com altos dignitários, com a concordância do novo
soberano. Aquelas que jamais haviam merecido as atenções do sultão podiam,
depois de nove anos de serviços, deixar o palácio e se casar; sua educação
esmerada fazia delas parceiras cobiçadas.
Jean-François Solnon. Harém, a vida entre prazeres e
intrigas. In: Revista História Viva. Ano XI / Nº 123 / p. 48-49.
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