Fantasia, Antônio Parreiras
O sexo das mulheres deve ser protegido, fechado e possuído.
Daí a importância atribuída ao hímen e à virgindade. Principalmente pelo
cristianismo, que faz da castidade e do celibato um estado superior. Para os
Pais da Igreja, a carne é fraca. O pecado da carne é o mais terrível dos
pecados. [...]
A virgindade é um valor supremo para as mulheres e
principalmente para as moças. A Virgem Maria, em oposição a Maria Madalena, é
seu modelo e protetora. Ela é, ao mesmo tempo, concebida sem pecado (dogma da
Imaculada Conceição, Pio IX, em 1854) e concebe sem o homem, "pela
intervenção do Espírito Santo". A Virgem, entretanto, é mãe em toda
plenitude; ela carrega seu filho no ventre, o alimenta, o segue em suas
predicações, o sustenta em sua paixão, o assiste em sua morte: a mãe perfeita,
mas somente mãe. A Virgem é rainha e mãe da Igreja medieval, mediadora,
protetora. "No século XIII, Deus mudou de sexo", escreve Michelet. As
virgens das catedrais e das igrejas transmitem essa presença pacificadora, mas
também obsedante, de Maria, rainha dos conventos, patrona das moças.
A fonte, Ingres
Filhas de Maria, elas são sujeitas à pureza. O pudor é o seu
ornamento. A virgindade no casamento é seu capital mais precioso. Elas devem se
defender da sedução e do estupro, que, entretanto, é praticado por bandos de
jovens em busca de iniciação. Moças sozinhas à noite precisam ter cuidado. Não
estão mais protegidas do que as mulheres na cidade noturna moderna. O corpo das
mulheres está em perigo.
A virgindade das moças pertence aos homens que a cobiçam.
Mais mito do que realidade, o direito do senhor feudal de deflorar a mulher do
servo não deixa de ser rico de significações. O direito do esposo é mais real,
pois se apodera de sua mulher na noite de núpcias, verdadeiro rito de tomada de
posse. Ritual que, por muito tempo, era público (a verificação do lençol
manchado que sobrevive na África do Norte), tornou-se cada vez mais íntimo.
Principalmente a partir dos séculos XVIII e XIX, como o mostra a prática da
viagem de núpcias.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo:
Contexto, 2013. p. 64-5.
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