Alexandre III da Macedônia, apelidado de Magno (o Grande),
exemplo insuperável do herói militar da Antiguidade clássica e protótipo da
beleza masculina na arte de todos os tempos, foi também um perfeito exemplo de
guerreiro bissexual. Os historiadores tradicionais apresentam-no como um
guerreiro incansável, obcecado pela conquista do seu império. Os mais ousados
chegaram a sugerir que mal tinha tempo para pensar em sexo e que os seus
casamentos com várias princesas orientais obedeceram a interesses políticos.
Todos são unânimes em afirmar que ele rapidamente se desembaraçava delas para
partir para as suas campanhas e raramente voltava a visitá-las. A mais
afortunada foi talvez Roxana, filha de um sátrapa de Sogdiana, de quem teve o
único filho que se conhece.
Paralelamente a esta imagem de conquistador omnipresente,
férreo e um tanto misógino, subsistiu uma discreta e interminável polêmica
sobre as verdadeiras tendências sexuais de Alexandre Magno. Se bem que o cerne
da questão surgisse da ambígua relação de Alexandre com o seu amigo íntimo e
colaborador Heféstion, há quem acredite que também se ligou com outro camarada
de armas ou que, em caso de urgência, recorria aos prisioneiros e aos escravos
que estavam ao seu serviço. Se, por um lado, parecia que as ocupações da guerra
afastavam o jovem imperador das mulheres, por outro, deixaram-no muito unido
aos seus homens.
Alexandre nasceu em 356 a .C., em Pela, a antiga capital da
Macedônia. Era filho do rei Filipe II, que também teve as suas histórias, e da
bela e dominadora Olímpia, princesa do Epiro. O pai andava sempre em guerra, um
pouco por todo o lado, para unificar e expandir o seu reino e, por isso, a
criança foi criada numa relação muito estreita com a sua sufocante mãe, que o
amava com um fervor edipiano. Olímpia, entre beijos e abraços, não podia ter
tido melhor ideia do que arranjar-lhe Aristóteles como preceptor, homem tão
sábio como disposto a instruir os seus discípulos na diversidade que a vida
oferece. O filósofo educou o pequeno Alexandre entre os treze e os dezesseis
anos, idade certamente delicada para um jovem que já então tinha como
companheiro de estudos e de brincadeiras o seu inseparável Heféstion.
Segundo Anábase, história das campanhas de Alexandre escrita
por Arriano, Heféstion pertencia a uma família grega nobre, radicada na
Macedônia. O pai, Amintor, fazia parte da colônia de gregos cultos contratados
ao serviço do rei Filipe. Estes forasteiros notáveis recebiam tratamento de
excepção, o que permitiu a Heféstion, apenas um ano mais novo do que Alexandre,
ser educado com ele no palácio real. Filipe morreu em 336 a .C., depois de ter
reinado durante duas décadas, e Alexandre sucedeu-lhe no trono com apenas
dezanove anos. Incentivado pela sua impetuosa ambição, lançou-se numa
vertiginosa campanha para submeter as cidades gregas, o que o obrigou a arrasar
a emblemática Tebas. No ano seguinte, influenciados por tão impressionante
exemplo, os chefes da Liga de Corinto concordaram em designá-lo comandante e
estratego dos seus exércitos. Alexandre deixou como regente da Macedônia o
maduro general Antípatro, que tinha sido lugar-tenente de seu pai, e empreendeu
uma expedição para Oriente com o objectivo de se apoderar de tudo o que
encontrasse pelo caminho.
Não existe notícia histórica de qual foi o papel de
Heféstion nessa etapa, mas os cronistas voltam a mencioná-lo na Primavera de
334, quando Alexandre conquista a cidade de Tróia. Apenas o seu nome é citado,
como se os contemporâneos já soubessem que era amigo de infância do rei da
Macedônia, na época um de seus generais e, por assim dizer, o mais íntimo dos
seus camaradas. Dizem as crônicas que Alexandre respeitou a lendária cidade
homérica e que ofereceu um sacrifício no túmulo de Aquiles, enquanto Heféstion
oferecia o seu próprio no de Pátrocles. Estas homenagens tiveram um curioso
simbolismo, pois Homero já sugeria na Ilíada que os heróis troianos tinham sido
amantes.
O nome de Heféstion volta a perder-se, enquanto a história
registra o avanço de Alexandre na conquista das cidades costeiras da Ásia
Menor, e reaparece na decisiva batalha de Issos, em Novembro de 333.
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