Casal dançando e celebrando o amor. Não
combinava com o saber produzido pelos homens da Igreja sobre o casamento e a
sexualidade.
Com a queda do Império Romano, a Igreja foi a única
instituição desse Estado que sobreviveu. Gradativamente ela conseguiu converter
os bárbaros à fé cristã e assumir o papel de guia espiritual da sociedade
medieval que se constituía sobre os escombros do império.
A Igreja medieval se propunha a desempenhar dois papéis, que
nem sempre se harmonizavam. O primeiro, como representante de Deus na terra,
era o de apontar o caminho da salvação, do retorno à casa do Pai. Para isso
prescrevia uma série de princípios morais, difíceis de serem seguidos na vida
cotidiana, uma vez que essa é marcada pelas necessidades materiais e pelas
relações de poder.
O segundo papel, como instituição poderosa, rica e com um
vasto quadro de funcionários permanentes (o clero) era o de regular a vida
social e política, contribuindo para a sua permanência e reprodução. O primeiro
papel levava a Igreja a se contrapor à sociedade laica, e o segundo a se
confundir com ela, visto que era uma instituição privilegiada na repartição da
riqueza e do poder.
Os dois papéis obrigavam a Igreja a se preocupar com o
casamento. Era o matrimônio que regulamentava a divisão das mulheres pelos
homens e disciplinava, em volta delas, a competição masculina, Era ele que
oficializava, socializava e colocava ordem na procriação e na sexualidade.
Ao regulamentar essas forças vitais do ser humano, o
casamento tocava no domínio do misterioso e do sagrado. Por outro lado,
designando quem eram os pais, o casamento estabelecia os herdeiros e os
parentes. Por essa razão o papel da instituição matrimonial variava conforme a
posição social e econômica dos herdeiros. Ela não era a mesma para todos os grupos
sociais.
O casamento era, portanto, o alicerce do edifício social, um
ponto de junção entre o material e o espiritual.
Para manter a ordem social, era preciso que a vida material,
incluindo a economia e a política, estivesse ajustada à espiritual, mas houve
momentos em que isso deixou de acontecer. Essa contradição levou à mudança.
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos
temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 222-224.
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