Um homem colocando um anel no dedo de uma mulher. Detalhe de miniatura do século XIV. James le
Palmer
No início da Idade Média, a tradição cristã fornecia um
pequeno número de ensinamentos acerca do casamento. Devido às contradições
entre os dois papéis assumidos pela Igreja, havia vozes eclesiásticas
dissonantes, todas se baseando na palavra de Deus. Uma doutrina católica sobre
o casamento, coerente e uniforme, só se formou lentamente.
Duas concepções do casamento se opuseram com violência na
cristandade até cerca de 1100. Como resultado desse conflito, foram instituídos
usos e costumes que prevaleceram na sociedade ocidental até pouco tempo atrás.
É possível identificar em Santo Ambrósio
(século IV) e Santo Agostinho (séculos IV-V), portanto já no início da Idade
Média, os argumentos contra e a favor do casamento.
A primeira dessas concepções, que aparece nos escritos de
Santo Ambrósio, foi herdada do cristianismo primitivo. Nela o casamento não é
recomendado. Quando muito é tolerado. A vida ascética e o horror à mulher
marcavam a vida do cristão ideal. Esse cristianismo foi influenciado pela
filosofia greco-romana, que opunha a matéria ao espírito.
Dessa forma o casamento seria um mal em si, pois o marido é
forçosamente um pecador. Ao amar com ardor sua mulher, comete pecado. O
casamento estaria inevitavelmente manchado pelo prazer sexual, sendo um
obstáculo à espiritualidade. Essa concepção opunha a vida terrena à salvação e
o clero aos leigos.
A outra concepção do casamento conciliava as necessidades
terrenas e as aspirações espirituais. Reconhecendo a importância do casamento
no ordenamento social, procurou resgatar os seus possíveis pontos positivos. Os
padres procuram salvar o casamento de sua maldição de origem. Para isso se
centraram em Santo
Agostinho , menos severo de que Santo Ambrósio em relação ao
sexo e ao casamento. Em vez de condená-los, era necessário submetê-los ao
sagrado.
Nessa concepção, o casamento é positivo por atenuar os
defeitos de cada um dos sexos. Nele a mulher perde as suas manhas e o homem a
sua brutalidade. E dessa harmonia nascem os filhos. A procriação é colocada
como a principal finalidade do casamento.
Nesse conjunto de ideias, não é bom que o homem viva só. A
mulher foi feita do homem e eles devem voltar a ser um só no casamento.
Todavia, permanece a desigualdade original. A mulher deve estar submetida ao
homem, assim como deve sofrer as dores do parto, por uma designação divina.
Santo Agostinho diz que o homem é a parte espiritual e a
mulher a parte sensual da condição humana. Por isso o casamento permite a
submissão da carne ao espírito. Mas para que isso se efetive, o homem deve
superar a fraqueza que levou Adão à perdição e reinar sobre sua esposa.
Depois de um longo processo de elaboração, a Igreja
conseguiu firmar uma doutrina e um ritual do casamento.
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos
temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 224-225.
Nenhum comentário:
Postar um comentário