Neste afresco romano, uma sacerdotisa do deus Baco dança
tocando pratos. Para os romanos, o amor era fonte de prazer e símbolo da vida,
incorporado na religião. A moral cristã tentou reverter essa característica.
Vila dos Mistérios, Pompeia.
Na Roma pagã as pessoas casavam mais por dever cívico e
interesse político do que por amor. O desejo, o amor e a afetividade ocorriam
mais fora do casamento do que dentro dele. A procura do prazer pelo homem fora
do casamento, desde que não afetasse a ordem social, era considerada normal.
De maneira geral, a mulher estava submetida à autoridade do
homem, primeiro como filha e depois como esposa. Mas, como sempre acontece,
essa submissão não era absoluta. Na política e no espaço público, o homem
romano, aparentemente, decidia tudo, mas no espaço doméstico predominava a
mulher, a administradora do lar. Esta possuía uma posição honrosa, mas tanto a
lei como os costumes procuravam limitar o seu espaço às fronteiras domésticas.
O poder do marido era contrabalançado de várias maneiras. A
figura do pai, por exemplo, ficava acima da do esposo, pois o matrimônio romano
era sine manu, ou seja, a autoridade paterna não se transferia ao marido.
Mesmo na casa do pai, a mulher possuía alguma liberdade.
Aquelas em idade de casar podiam administrar os seus bens e escolher seu
marido. Mas sua ação era restringida pelo padrão duplo que regia o
comportamento sexual: o homem tinha liberdade de procurar o prazer fora do
casamento, mas a mulher não.
Convém ressaltar que as informações que temos sobre a mulher
na sociedade romana antiga se referem quase exclusivamente às mulheres das
famílias aristocráticas. Mas é possível saber que as das classes mais baixas,
especialmente as escravas, tinham poucas opções de decidirem sobre as suas
vidas. Se os seus senhores as achassem atraentes, tornavam-se suas concubinas.
Essa família romana tradicional, na fase de decadência do
Império Romano do Ocidente e de ascensão da Igreja (séculos IV e VI), já estava
bastante transformada pelo cristianismo. Este deu oportunidade à mulher de se
tornar uma pessoa independente, e não somente filha, mulher e mãe de alguém.
Na visão cristã primitiva, as mulheres são seres espirituais
com a mesma potencialidade dos homens para a perfeição moral. No entanto, a
evolução do cristianismo primitivo para a institucionalização da religião e a
formação da Igreja Católica [...] n]ao favoreceu a mulher.
A vitória do cristianismo na sociedade romana dependeu de
uma acomodação entre o comportamento dos cristãos e os interesses do Estado. O
radicalismo primitivo, que fazia com que as autoridades romanas vissem o
cristão como um mau cidadão, teve de ser atenuado. O casamento e a sexualidade,
que antes eram tidos como obstáculos à salvação, passaram a ser compatíveis com
a religião.
A acomodação entre a moral romana e a cristã no que se
refere à sexualidade foi bastante problemática. O amor era visto pelos romanos
como sagrado, misterioso, fonte de vida e de prazer. Os primitivos cultos aos
deuses romanos da fertilidade e do amor incluíam o uso de símbolos fálicos e
relações sexuais entre os que cultuavam esses deuses.
Bem ao contrário, a sexualidade na moral cristã está ligada
ao pecado e, como tal, é uma fraqueza a ser vencida no caminho da salvação.
Esse cristianismo primitivo considerava de modo negativo o próprio matrimônio e
a procriação. O casamento era visto como uma concessão às exigências do corpo.
Os prazeres da vida desviaram o crente do verdadeiro caminho.
A vitória do cristianismo, que acabou se tornando a religião
oficial do Império Romano, fez com que a visão romana tradicional sobre a
sexualidade fosse suplantada pela moral cristã, mas esta teve de alterar o seu
radicalismo original para se tornar aceita pela maioria da população.
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História por eixos
temáticos. São Paulo: FTD, 2002. p. 219-221.
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