A nova posição feminina expressava-se por meio de
comportamentos considerados ousados e vistos pelos conservadores como mais uma
"prova" de decadência nos padrões de convivência humana: encurtamento
das saias até os joelhos, cabelo curto, hábito de frequentar bares e prática de
danças como o foxtrote e o charleston.
Foto: Inspeção de trajes de banho em 1919, Estados Unidos. Se o modelo fosse muito curto, a moça tinha que pagar multa
Foto: Inspeção de trajes de banho em 1919, Estados Unidos. Se o modelo fosse muito curto, a moça tinha que pagar multa
O milagre americano criou condições para que aflorasse, nas
classes médias e na burguesia, um estilo de vida considerado modelo da moderna
civilização ocidental: o american way of life (modo de vida americano). Tal
como as mercadorias, ele foi exportado para o mundo todo¹.
* Prosperidade e liberdade. O modo de vida americano, tendo
como base a riqueza, caracterizava-se pela construção de edifícios grandes e
modernos, pela multiplicação de bairros residenciais cujas casas se ligavam por
jardins e gramados, pelo aumento do número de carros e de aparelhos domésticos.
Cada vez mais gerava-se a necessidade de consumir, alimentada pela propaganda e
pelo crediário.
Na década da prosperidade presenciou-se também uma mudança
na vida social e nos costumes, principalmente no que se refere à emancipação
feminina. A mulher conquistou o direito de coto (1920), condição para a
igualdade política. Nas décadas subsequentes, além de votar, as mulheres
ocuparam cargos públicos e privados em vários escalões hierárquicos.
Contudo, a discriminação nos salários continuaria por muito
tempo. Apesar disso, em 1940 as mulheres constituíam 25% da mão de obra do
país, quando, em 1900, não passavam de 17,7%. A saída da mulher do lar e o
trabalho ao lado do homem trouxeram mudanças significativas nos costumes e
hábitos sociais. Cresceram sobretudo as reivindicações por igualdade de
direitos.
A maior utilização do automóvel também provocou mudanças
sensíveis no comportamento cotidiano, principalmente dos jovens, que puderam
manter relações mais abertas e livres, longe do controle dos pais.
* Intolerância e fanatismo. A década de 1920 também foi
marcada por manifestações de crescente intolerância, fanatismo e chauvinismo
entre todas as classes e em todos os setores da sociedade norte-americana.
A política do cordão sanitário imposta à Rússia fez aflorar
o medo do comunismo. O exacerbado chauvinismo intensificou o anti-semitismo, e
a legislação praticamente pôs fim à imigração da Europa Meridional e Oriental.
Organizaram-se ainda campanhas contra católicos.
Tomava corpo uma ideologia que reconhecia como 100%
norte-americanos apenas os brancos e protestantes abastados, justificando
perseguições aos negros, às outras minorias raciais e aos pobres em nome da
preservação de um hipotético ideal de vida norte-americano.
Passou-se a investigar o conteúdo de livros didáticos e
manuais escolares, para abolir as obras que não contivessem a apropriada
glorificação do passado norte-americano. Grupos paramilitares, contando com o
apoio de uns e o medo de outros, dominaram virtualmente o panorama de alguns
estados, sobretudo os sulinos.
Nesse contexto, surgiu, em vários estados, a temida Ku Klux
Klan², organização que fazia violenta pressão em prol do norte-americano 100%.
Em 1925, a
organização contava com aproximadamente 5 milhões de membros, levando
fanatismo, violência e corrupção onde quer que penetrasse.
Outro componente do norte-americano 100% foi a ênfase na
moralização dos costumes. Surgiram, então, várias ligas que se arrogavam o
direito de defender qualquer aspecto da "civilização norte-americana"
considerado em perigo. De
1919 a
1933, por exemplo, proibiu-se a fabricação, venda ou transporte de bebidas
alcoólicas. A chamada Lei Seca contribuiu para o aparecimento de
contrabandistas de álcool, os gângsteres e suas quadrinhas, cujo representante
mais famoso foi Al Capone. (NEVES, Joana. História Geral - A construção de um
mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 434-435.)
¹ Na década de 1920, os Estados Unidos estavam embriagados
pelo elixir da prosperidade. O mundo não tinha visto nada parecido até então.
[...] A família média americana vivia melhor, comia melhor, vestia-se melhor e
usufruía mais da sociedade de consumo do que qualquer família média de outra
parte do mundo. Eufóricos, os norte-americanos consumiam freneticamente
relógios de pulso, geladeiras, latas de ervilhas, aparelhos de barbear,
enceradeiras e tudo mais que o dinheiro e o crediário pudessem comprar.
Enquanto na Europa a média era de um carro para 84 pessoas, nos Estados Unidos
era de um para cada seis pessoas. (CAMPOS, Flávio de; MIRANDA, Renan Garcia. A
escrita da história. São Paulo: Escala Educacional, 2005. p. 464.)
² A Klan foi organizada em 1915 pelo professor de história e
pregador laico William J. Simmons. Adotou como modelo a organização de
encapuzados que aterrorizava o sul do país depois da Guerra Civil. Os adeptos
da Klan eram recrutados, principalmente, entre pessoas da classe média. Como só
os protestantes brancos e nativos eram considerados capazes de compreender
"racialmente" o norte-americanismo, a Klan deliberou a eliminação de
católicos, judeus, negros e da maioria dos estrangeiros.
Referências:
CAMPOS, Flávio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da
história. São Paulo: Escala Educacional, 2005. p. 464.
NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo
globalizado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 434-435.
Nenhum comentário:
Postar um comentário