Os índios sabem aproveitar bem o material que encontram nos lugares onde vivem para fazer os objetos de que necessitam. Com matéria-prima animal, vegetal, pedra e argila, eles confeccionam tudo o que precisam no seu dia-a-dia.
Com a palha de várias espécies de palmeiras são trançados cestos de diferentes feitios e tamanhos, cestos para guardar e transportar alimentos, enfeites e outras tralhas. Também de palha são as peneiras, as esteiras, os abanos de fogo, o tipiti. Com fibras de palmeira ou de algodão são tecidas as redes de dormir.
Da argila são feitas as panelas, as tigelas e os potes para cozinhar, servir e guardar comida, fogareiros e tachas para torrar farinha e beiju.
Ossos e dentes de animais servem para fazer várias coisas. Os dentes afiados da cutia e de outros roedores viram buril para polir madeira. Os dentes do peixe-cachorro viram furadores. As conchas perfuradas viram raspadores. A queixada da piranha, com 14 dentinhos afiados, serve para serrar bambu. A pele de muitos bichos vira sacola de couro. Os cascos do jabuti e do tatu viram vasilha. A língua do pirarucu vira ralador de guaraná. Os ossos longos (fêmur e tíbia) dos animais viram pontas de lança, de flechas ou flautas.
De madeira são feitos os bancos, as colheres de pau, as pás de virar beiju, os pilões e os raladores de mandioca-brava incrustados com minúsculos dentes de pedra afiada.
Os frutos de algumas plantas, como o cabaceiro-amargoso ou a cuitezeira, servem para fazer cabaças, cuias, porongos, que são os pratos, os copos e as colheres dos índios. Também com eles se fazem os chocalhos que marcam o ritmo dos cantos e danças.
O que há de interessante nos objetos domésticos indígenas é que nenhum é exatamente igual ao outro, porque são todos feitos a mão e todos com muito capricho. Para fazer um simples ralador, um pilão ou uma pá de virar beiju os índios escolhem bem a madeira, esculpem-na com cuidado e enfeitam-na com desenhos pintados ou gravados.
Entre os índios, a pessoa que faz o objeto é a mesma que vai usá-lo. Daí o gosto que tem e o empenho que coloca na confecção do mais corriqueiro utensílio. A casa fica enfeitada e com o jeito do seu dono. Berta G. Ribeiro. Museu do Índio. Em: Divulgação científica para crianças, nº 3. Encarte de Ciência Hoje. Rio de Janeiro, SBPC, 6 (33), jul. 1987.
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