Na história humana, o oceano era às vezes um obstáculo insuperável para o contato entre povos longínquos, enquanto, em outras épocas, as vastas extensões de terra tornavam-se grandes barreiras. O que os navios alcançaram em transporte no oceano, os cavalos alcançaram em pelo menos uma das massas de terra; eles lentamente converteram em uma estrada rudimentar aquele largo corredor transcontinental de campinas e montanhas, de leste a oeste, que separavam as civilizações tão contrastantes do leste da Ásia e do Mediterrâneo.
Ocasionalmente, os povos das estepes explodiam em cada extremidade do corredor como um foguete sobre esses mundos bem armados. Várias de suas vitórias foram notáveis. Um desses grupos do oeste, os hunos, atacaram violentamente o Ocidente e fizeram o agonizante Império Romano tremer de medo. Quase 1000 anos depois, um grupo do leste, os mongóis, unindo coragem, crueldade e um toque de genialidade, conquistou o maior território jamais dominado por um governante até então.
A terra de origem dos mongóis ficava bem mais ao norte da rota da seda. Numa determinada época, eles provavelmente tenham vivido próximo do Lago Baikal, na fronteira leste da Sibéria e do que hoje é a República Popular da Mongólia. Por volta do século X, eles deslocaram-se do norte da Mandchúria em direção ao leste da Mongólia. Mais tarde, deram seu nome a uma dúzia de outros povos nômades que se juntaram a eles na grande conquista. Os mongóis e seus vizinhos rivais raramente cultivavam alimentos, não conheciam a irrigação e nunca se estabeleceram em um único lugar.
As famílias que tradicionalmente habitavam essas estepes da Mongólia deslocavam seus rebanhos de pastagem em pastagem, de acordo com a mudança das estações. Possuíam ovelhas, cabras, gado e cavalos, mas a terra em si permanecia coletivamente a grupos maiores. Quando chegava a hora de mudar de acampamento para regiões propícias ao verão ou inverno, os bois geralmente puxavam as carroças nas quais eram carregadas as enormes barracas de lã. Não possuindo grandes cidades, sua população total era pequena.
Os animais eram sua capital, sua principal fonte de riqueza. Relutantes em devorar seu capital, os mongóis preferiam, tanto quanto possível, viver dos dividendos que vinham do leite. Do leite de suas vacas, ovelhas e cabras eles faziam manteiga, pelo menos quatro variedades de queijo, o iogurte hoje tão popular no Ocidente, um tipo de creme seco chamado de urum, e uma bebida destilada chamada de airak. Até as éguas robustas de galope veloz produziam seu leite que, fermentado, era bebido com grande satisfação.
Arqueiro mongol. Artista desconhecido. Dinastia Ming.
A primeira vista, não era um ambiente que prepararia um povo, pouco temeroso, para a tarefa de derrubar civilizações altivas e populosas. Mas os homens, exímios cavaleiros, cavalgavam ao mesmo tempo que atiravam flechas com pontas de ferro com enorme precisão, e podiam cobrir uma imensa área com enorme velocidade. As mulheres eram competentes como administradoras quando os homens haviam partido em expedições de guerra e ataques, e, na verdade, essas mulheres tinham um status que surpreendeu muitos chineses. De alguma forma, os mongóis podiam ser comparados com os vikings, que floresceram um pouco antes. O que um povo fez no mar, o outro fez em terra; ambos vieram de climas inóspitos e territórios pouquíssimos povoados [...].
Todos os sagazes imperadores da China viam vantagens em instigar os nômades a lutarem entre si. No século XII, eles encontravam-se tão divididos quanto se tornaram unidos no século seguinte. Em 1206, entretanto, Genghis Khan, o chefe dos mongóis, como por milagre, uniu esses cavaleiros das estepes. Todos os clãs ou grupos lhe juraram sua lealdade e os mais prováveis de serem desleais já haviam sido mortos ou intimidados. [...] Com um exército montado de aproximadamente 130.000 homens e uma rede de espiões em território inimigo, ele começou sua conquista. Milhares de cavaleiros andavam com um ou dois cavalos sobressalentes a seu lado para que pudessem substituir um cavalo cansado se uma longa jornada os esperasse à frente.
Soldados mongóis, Rashid al-Din, 1305.
Genghis Khan movia-se tão rapidamente que a surpresa, frequentemente, era sua arma. Às vezes, usava da nova invenção, a pólvora, caso tivesse de sitiar uma cidade fortificada. Geralmente, oferecia à cidade a chance de se render. O preço da rendição era um em cada dez habitantes da cidade e um décimo de sua riqueza. E, assim, seus escravos e soldados recrutados e sua riqueza multiplicavam-se. As cidades que não se rendiam eram sitiadas ou invadidas; massacres e carnificinas eram a marca registrada dos mongóis.
O vandalismo inteligente e sem piedade era outra de suas armas. Destruíam os sistemas de irrigação que representavam a vida de muitas terras aráveis, ou devastavam a terra que cercava uma cidade sitiada, para que a beira de suas estradas e os campos ficassem repletos de corpos espalhados pelo chão. Quando avançavam em direção aos muros de uma cidade bem protegida, às vezes compeliam seus prisioneiros de guerra a irem à frente e formarem um escudo humano. Além disso, os líderes mongóis também impunham uma disciplina rígida entre seu próprio povo.
Catapulta mongol. Artista desconhecido.
A Grande Muralha da China era simplesmente um outro obstáculo para os mongóis traspassarem. Tomaram Pequim em 1215 e, com o tempo, fizeram-na a capital da China. Ao sul ficava uma imensa área de terras ainda nas mãos dos chineses e os mongóis lentamente a dominaram. [...]
Batalha entre chineses (esquerda) e mongóis (direita), em 1221.
No outro canto da Ásia, os mongóis tiveram praticamente a mesma notoriedade. Tomaram uma sucessão de cidades islâmicas que até então tinham se sentido seguras por trás de seus altos muros; até Bagdá caiu em suas mãos. No final do século XIII, o Império Mongol se estendia desde as margens do Danúbio até as vilas de pescadores de Hong Kong.
[...]
Uma das principais conquistas dos mongóis foi trazer a lei e a ordem à longa rota da seda: nunca antes havia essa estrada estado sob o controle de um governante. Chegaram a fazer cortes no terreno, nas partes mais altas, e algumas pontes espalhadas, com acampamentos para as diligências e estalagens simples pelo caminho, onde os comerciantes, seus serventes e animais de carga podiam acampar durante a noite. Todos os tipos de carga passavam por ali e há registros de que, entre 1366 e 1397, o mercado de escravos na cidade italiana de Florença tenha vendido 257 escravos, a maioria mulheres jovens, que haviam sido trazidas por essa estrada. [...]
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 109-112.
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