"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A sociedade persa

Friso dos arqueiros, Susa
"A arte persa destacou-se sobretudo nos palácios [...] e nos túmulos reais [...] As paredes eram de tijolos; o teto, de madeira. Dos egípcios aprenderam o uso das colunas. Mas as colunas dos persas eram finas e elegantes; [...] ostentavam, ainda, magníficos capitéis, esculpidos com cabeças de touros.
Os muros achavam-se recobertos de tijolos esmaltados em cores, que formavam frisos - ou de baixo-relevos. Frisos famosos são o dos Arqueiros e o dos Leões. Essa ornamentação inspirou-se nos assírios, mas na sua execução os persas superaram seus mestres de Nínive.
À entrada dos palácios havia grandes touros alados de pedra [...]"
(BECKER, Idel. Pequena História da Civilização Ocidental. São Paulo: Nacional, 1971. p. 78-9)

O Planalto do Irã, uma das regiões do Oriente Próximo, limita-se, ao Norte, pelos Montes Cáucaso e pelo Mar Cáspio; a Oeste, pelos Montes Zagros; a Leste, pelos Montes Solimã, e, ao Sul, pelo Golfo Pérsico.

[...] o Irã é cercado de montanhas, junto às quais existem vales férteis, embora predominem desertos na sua parte central.

O espaço geográfico não oferecia muitas facilidades à vida humana, porque havia poucas terras aproveitáveis para a criação de cavalos e de carneiros ou para o plantio de cereais. A região, entretanto, era rica em minerais e ficava situada entre a fértil Mesopotâmia e as opulentas sociedades da Índia.

As tribos persas procediam das terras do Sul da atual Rússia e viviam do pastoreio e da criação de cavalos.

Outros povos também se localizavam no Irã, como os medos, aparentados com os persas e, desde o século VIII a.C., organizados no Reino da Média. Este Reino chegou a ser uma potência no Oriente Médio e, aliado ao Reino da Babilônia, conquistou o Império Assírio (século VII a.C.).

Somente no século VI a.C. foi que as tribos persas se unificaram, formando um Estado centralizado na cidade de Pasárgada, onde reinava a dinastia dos Aquemênida.

O primeiro soberano conhecido da dinastia persa foi Ciro, cujo governo caracterizou-se por uma política de conquistas dos Estados vizinhos. Um a um caíram sob o domínio persa os Reinos da Média, da Lídia e da Babilônia, além da Fenícia, da Síria, da Palestina e das cidades gregas da Ásia Menor.

[...]

O que explicaria a rapidez dessa expansão? Várias razões devem ser levadas em conta. Inicialmente, devemos considerar o interesse da aristocracia persa em se apoderar de novas terras e de riquezas tomadas de outras sociedades.

Além do mais, os exércitos persas eram formados por numerosos guerreiros que haviam recebido prolongada educação militar, como nos relata o historiador grego Heródoto:

"Na educação dos jovens persas, que dura dos 5 aos 20 anos, ensinam-se três coisas: montar a cavalo, manejar o arco e dizer a verdade."


Traje de homem da Média, Friedrich Hottenroth

A expansão foi igualmente facilitada pela pequena resistência dos Estados vizinhos, enfraquecidos pelas guerras anteriores contra os assírios.

Novas conquistas aconteceram no reinado de Cambises, o segundo governante Aquemênida, que dominou o Egito (século VI a.C.). A extensão máxima do Império Persa ocorreu sob a direção de Dario I, o Grande, quando anexou o Norte da Índia e parte da Península Balcânica na Europa. Ao invadir a Europa, os persas acabaram entrando em guerra com as cidades gregas , que paralisaram a expansão Aquemênida.


Guerreiro grego (hoplita) e guerreiro persa lutando. Séc. V a.C.

Foi no reinado de Dario I (521-486 a.C.) que o imenso Império teve estabelecida sua organização administrativa. Dividia-se em Províncias chamadas Satrapias, as quais eram dirigidas pelos Sátrapas, governantes com poderes administrativos e judiciários.


Arqueiro. Palácio de Dario, Susa.

Junto aos Sátrapas existiam outros altos funcionários: o General, que comandava as forças militares da Satrapia, e o Secretário, que escrevia relatórios ao Rei, noticiando o que se passava na Província.

[...]

Dario I instituiu também os Olhos-e-Ouvidos-do-Rei, que viajavam às Satrapias para melhor fiscalizar a administração local. Inúmeras estradas de pedra foram construídas, o que favoreceu o comércio. Estas estradas, algumas com mais de 1.000 quilômetros, eram guarnecidas por tropas e também serviam para o rápido deslocamento de correios a cavalo.

Guerreiros medos e persas,  Persépolis

Realização importante foi a criação de um sistema de moedas, que teve no dárico de ouro a moeda-padrão. Esta medida igualmente beneficiou o comércio.

Mas, será que todas as populações submetidas estariam satisfeitas com o aperfeiçoamento do sistema de exploração estabelecido? Imagine você a reação ante a obrigatoriedade de pagar tributos em dinheiro ou em produtos, além de trabalhar em obras públicas. Isto sem falar na obrigação de fornecer homens para servir no exército persa, tão necessário para manter o sistema de dominação sobre tantos povos e empreender novas conquistas que favoreciam a minoria de comerciantes, de proprietários de terras e de sacerdotes.


Relevo representando sacerdotes, Persépolis

A desagregação do Império Aquemênida ocorreu nos conflitos com as cidades gregas, culminando com a conquista do Império por Alexandre, o Grande (século IV a.C.).

A sociedade persa foi a primeira a dominar todo o Oriente Próximo. Suas realizações culturais revelam influências marcantes de outras sociedades orientais, principalmente da Mesopotâmia, como o uso da escrita cuneiforme.


Representação do Palácio de Dario I, Persépolis, Charles Chipiez

Para a construção de seus palácios, feitos de pedras ou de tijolos, recorreram muitas vezes a arquitetos egípcios, enquanto as escadarias, os terraços e os tijolos esmaltados seguiam modelos babilônicos e assírios.

Palácios e túmulos reais eram decorados com baixos-relevos, representando, invariavelmente, o soberano, povos submetidos e arqueiros persas.

AQUINO, Rubim Santos Leão de et all. Fazendo a História: da Pré-história ao Mundo Feudal. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1989. p. 50-53.

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