Até os dias atuais, a maior parte das sociedades africanas subsaarianas dá grande importância à oralidade, ao conhecimento transmitido de geração para geração por meio das palavras proferidas com cuidado pelos tradicionalistas - os guardiões da tradição oral, que conhecem e transmitem as ideias sobre a origem do mundo, as ciências da natureza, a astronomia e os fatos históricos.
Nessas sociedades de tradição oral, a relação entre o homem e a palavra é mais intensa. A palavra tem um valor sagrado, sua origem é divina. A fala é um dom, não podendo ser utilizada de forma imprudente, leviana. Ela tem o poder de criar, mas também o de conservar e destruir. Uma única palavra pode causas uma guerra ou proporcionar a paz.
Alguns ofícios existentes nas sociedades africanas estão relacionados à tradição oral, a um conhecimento sagrado, a ser revelado e transmitido para as futuras gerações; é o caso dos ferreiros, carpinteiros, tecelões, caçadores e agricultores. Os mestres que realizam essas atividades fazem-no ao mesmo tempo em que entoam cantos ou palavras ritmadas e gestos que representam o ato da criação.
Os griots ou animadores públicos também são tradicionalistas responsáveis pela história, música, poesia e contos. Existem griots músicos, tocadores de instrumentos, compositores e cantores, os griots embaixadores, mediadores em caso de desentendimento entre as famílias, e os griots historiadores, poetas e genealogistas, estes são os contadores de história. Nem todos os griots têm o compromisso com a verdade como os demais tradicionalistas. A eles é permitido inventar e embelezar as histórias.
Griot tocando um ngoni. Diffa, Niger.
O aprendizado de um tradicionalista ocorre nas escolas de iniciação e no seio familiar, no qual o pai, a mãe e os parentes mais velhos também são responsáveis pelos ensinamentos, por meio de suas próprias experiências, lendas, fábulas, provérbios e mitos sobre a criação do mundo, o papel do homem no Universo, a existência do mundo dos vivos e dos mortos.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2008. p. 19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário