Hipátia, Alfred Seifert
- Vai com qualquer um - diziam, querendo sujar sua liberdade.
- Nem parece mulher - diziam, querendo elogiar sua inteligência.
Mas numerosos professores, magistrados, filósofos e políticos acudiam de longe até a Escola de Alexandria, para escutar sua palavra.
Hipátia estudava os enigmas que tinham desafiado Euclides e Arquimedes e falava contra a fé cega, indigna do amor divino e do amor humano. Ela ensinava a duvidar e a perguntar. E aconselhava:
- Defende o teu direito de pensar. Pensar errado é melhor que não pensar.
O que fazia essa mulher herege ditando cátedra numa cidade de machos cristãos?
Era chamada de bruxa e feiticeira e a ameaçavam de morte.
E num meio-dia de março do ano de 415, a multidão se atirou em cima dela. E foi arrancada de sua carruagem e despida e arrastada pelas ruas e golpeada e apunhalada. E na praça pública a fogueira levou tudo o que restava dela.
- Haverá uma investigação rigorosa - prometeu o prefeito de Alexandria.
GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 69.
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