"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Hipátia

Hipátia, Alfred Seifert


- Vai com qualquer um - diziam, querendo sujar sua liberdade.

- Nem parece mulher - diziam, querendo elogiar sua inteligência.

Mas numerosos professores, magistrados, filósofos e políticos acudiam de longe até a Escola de Alexandria, para escutar sua palavra.

Hipátia estudava os enigmas que tinham desafiado Euclides e Arquimedes e falava contra a fé cega, indigna do amor divino e do amor humano. Ela ensinava a duvidar e a perguntar. E aconselhava:

- Defende o teu direito de pensar. Pensar errado é melhor que não pensar.

O que fazia essa mulher herege ditando cátedra numa cidade de machos cristãos?

Era chamada de bruxa e feiticeira e a ameaçavam de morte.

E num meio-dia de março do ano de 415, a multidão se atirou em cima dela. E foi arrancada de sua carruagem e despida e arrastada pelas ruas e golpeada e apunhalada. E na praça pública a fogueira levou tudo o que restava dela.

- Haverá uma investigação rigorosa - prometeu o prefeito de Alexandria.

GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 69.

Nenhum comentário:

Postar um comentário