Desde as termas particulares das villas romanas, o gosto pelas abluções a
domicílio nunca abandonou o Ocidente. A Idade Média apreciava as viagens: o
banho era o primeiro gesto de polidez para com o hóspede. Fosse ao mensageiro
vindo de longe, como em Tristão e Isolda,
ou a um convidado que se desejasse homenagear. Em 1467, Jehan Dauver, por
exemplo, primeiro presidente do Parlamento de Paris, preparou quatro banheiras
para a rainha Charlotte e seu séqüito, que convidou para jantar.
Aparentemente, o pudor parecia
desprovido dessa polidez, no início. No castelo como na cabana, não havia salas
de banho. Nenhuma intimidade era prevista: a tina era levada ao quarto e uma
prancha, colocada de atravessado, servia de mesa para dispor os objetos necessários.
Na segunda metade do século XVI,
foi a arte que por sua vez se ocupou do tema. Os quadros de “damas no banho”
estavam na moda. Seria um agrado destinado aos maliciosos? A linguagem, em todo
caso, parece cifrada: as jóias, sobretudo os anéis, os espelhos, as flores, a
empregada ao fundo, são constantes que aparecem nos cerca de 40 quadros
conservados. O de Gabrielle d’Estrées (condessa de Beaurmont e amante de
Henrique IV) e de sua irmã é o mais famoso, mas devem ter havido outros: a
acreditarmos em Brantôme, mesmo na época eles teriam chocado. O pudico século
XVII destruiu um bom número deles.
Gabrielle d'Estrées e uma de suas irmãs, 1595: típico quadro "damas no banho". Artista desconhecido.
O século XVIII recuperou o convívio
dentro da banheira. Ali, os grandes recebiam, tanto quanto o faziam em sua
cadeira sanitária ou na cama, mas unicamente pessoas de condição inferior, pois
o pudor era então hierarquizado. Eram as mulheres, em especial, que gostavam de
receber socialmente dentro da banheira. O cardeal de Berris, embaixador em
Roma, tratou de distrair dessa forma a senhora de Genlis, hospedada na Cidade
Eterna. Por vezes, ia acompanhado de seu jovem sobrinho. Mas o pudor era no
entanto preservado: a água do banho era turvada por cerca de um litro de leite.
Esse hábito cessou pouco a pouco
no século XIX, na época em que a sala de banho ganhou as residências burguesas.
Jean-Claude Bologne, filólogo e historiador.
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